Em miúda sonhei com uma família grande. A minha era francamente pequena. Veio a adolescência e a família passou a ser a Grande Seca a evitar. Ainda por cima, sendo pequena (a família), os holofotes pareciam estar constantemente virados para mim inviabilizando qualquer tentativa de passar despercebida. Cresci e o regresso foi inevitável. Mas agora já não tinha apenas uma família. Apaixonei-me por um homem que tem uma família grande. Muito maior e complexa do que aquela com a qual sonhava em pequena. Nos primeiros tempos nem sabia bem como havia de lidar com tanta gente, tantas histórias, tantos hábitos e regras novas. Sentia-me absolutamente perdida naquela "multidão". Olhava para trás sem perceber porque é que algum dia tinha desejado uma família grande. Eram demasiadas sensibilidades, personalidades e feitios para gerir. Uma canseira!
Depois de ter sido mãe passei a observar a forma como as minhas filhas lidam, tão naturalmente, com toda esta multidão de parentes. Como para elas, tudo se encaixa, sem receios ou melindres, como é típico das crianças. Por essa altura já tinha percebido que além de alguns (poucos) amigos especiais, quando a vida nos prega rasteiras, a família é tudo o que nos resta, o único tronco que nos salva da corrente. Mas a lógica de clã, grande e apertado continuava a ser ligeiramente desconfortável.
Há uns dias, fizemos, com um dos grandes clãs ( sim, há mais que um...), uma viagem à neve.
- "Mãe, olha a música da neve! E nós também vamos! Com os avós, as tias, os tios, os primos..." - dizia a minha filha mais velha quando ouvia este tema dos Red Hot.
Eu estava extremamente cansada, stressada com o trabalho que anda mesmo trabalhoso. Era apenas um fim de semana. Achei que voltaria ainda mais cansada, mas a excitação das minhas filhas com a neve e a família era tal que meti a viola no saco e lá fui.
Voltei quase como nova. Pronta para mais uma semana difícil. O cenário era magnífico e apagava tudo o que ficara para trás. Só nós, a neve, o ar puro. O riso dos miúdos e dos graúdos. Só isso...
Algures durante aquele fim de semana, dei por mim a olhá-los e a pensar como era bom estar ali com eles, como tinha saudades de passar algum tempo com cada uma daquelas almas. Dei por mim a perceber que efectivamente tenho o meu lugar no clã. Que lhes pertenço e eles a mim.
Dei por mim a pensar como é fantástico ter uma família grande.