quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Neve



Em miúda sonhei com uma família grande. A minha era francamente pequena. Veio a adolescência e a família passou a ser a Grande Seca a evitar. Ainda por cima, sendo pequena (a família), os holofotes pareciam estar constantemente virados para mim inviabilizando qualquer tentativa de passar despercebida. Cresci e o regresso foi inevitável. Mas agora já não tinha apenas uma família. Apaixonei-me por um homem que tem uma família grande. Muito maior e complexa do que aquela com a qual sonhava em pequena. Nos primeiros tempos nem sabia bem como havia de lidar com tanta gente, tantas histórias, tantos hábitos e regras novas. Sentia-me absolutamente perdida naquela "multidão". Olhava para trás sem perceber porque é que algum dia tinha desejado uma família grande. Eram demasiadas sensibilidades, personalidades e feitios para gerir. Uma canseira!
Depois de ter sido mãe passei a observar a forma como as minhas filhas lidam, tão naturalmente, com toda esta multidão de parentes. Como para elas, tudo se encaixa, sem receios ou melindres, como é típico das crianças. Por essa altura já tinha percebido que além de alguns (poucos) amigos especiais, quando a vida nos prega rasteiras, a família é tudo o que nos resta, o único tronco que nos salva da corrente. Mas a lógica de clã, grande e apertado continuava a ser ligeiramente desconfortável.
Há uns dias, fizemos, com um dos grandes clãs ( sim, há mais que um...), uma viagem à neve.
- "Mãe, olha a música da neve! E nós também vamos! Com os avós, as tias, os tios, os primos..." - dizia a minha filha mais velha quando ouvia este tema dos Red Hot.
Eu estava extremamente cansada, stressada com o trabalho que anda mesmo trabalhoso. Era apenas um fim de semana. Achei que voltaria ainda mais cansada, mas a excitação das minhas filhas com a neve e a família era tal que meti a viola no saco e lá fui.
Voltei quase como nova. Pronta para mais uma semana difícil. O cenário era magnífico e apagava tudo o que ficara para trás. Só nós, a neve, o ar puro. O riso dos miúdos e dos graúdos. Só isso...
Algures durante aquele fim de semana, dei por mim a olhá-los e a pensar como era bom estar ali com eles, como tinha saudades de passar algum tempo com cada uma daquelas almas. Dei por mim a perceber que efectivamente tenho o meu lugar no clã. Que lhes pertenço e eles a mim.
Dei por mim a pensar como é fantástico ter uma família grande.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

E porque jukeboxes há muitas... Há amigos e amigos



Há amigos e amigos.

Há aqueles amigos que, para além da amizade, oferecem-nos mais, muito mais. Partilham o seu conhecimento, a sua visão do mundo, daquilo que os rodeia.

Foi um Amigo assim que me abriu o espírito e a razão para um dos maiores ícones da musica em Portugal e por que não, no mundo.

Porque uma coisa é certa: é enorme como músico e não era menor como homem.

Era porque já nos deixou, mas ficou a sua música que continua actual, única, mágica, capaz de nos agarrar e transportar para outro mundo, o mundo do homem que a compôs e que via as coisas de uma forma muito própria, como só um génio é capaz de ver.

É um pouco do homem e não do músico que gostaria de partilhar convosco. Se é que esta destrinça é possível, pois talvez homem e musico sejam inseparáveis, incapazes de estar um sem o outro.

Quando lhe perguntaram como era possível que, um musico da sua idade e experiência, reconhecido nos quatro cantos do mundo, autor de verdadeiras obras de arte musicais, digníssimo guitarrista ovacionado nas maiores e mais famosas casa de espectáculo deste planeta, continuasse a deslocar-se, todos os dias, de autocarro e/ou eléctrico para o seu local de trabalho que zelosamente fazia questão em manter, sujeito às dificuldades inerentes a estas jornadas, quando poderia simplesmente usufruir das comodidades inerentes à sua condição de musico famoso, Carlos Paredes respondeu:

- Se não continuasse a deslocar-me desta forma, percorrendo os mesmos caminhos, misturado com as pessoas como sempre fiz, então a minha música seria outra, seria diferente. São estas rotinas diárias (deslocações, função de administrativo no hospital) que mantêm a pessoa que sou, que suportam os meus sentimentos e que dessa forma conservam os requisitos necessários para continuar a produzir a música que gosto e que pretendo atingir.

É esta visão, de um homem ao mesmo tempo tão grande e tão simples, que me faz ver aquilo que realmente é importante nesta vida…

Sorte minha, Amigo Pedro por contar com a tua Amizade!!!

Gonçalo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O Xico e o Caetano



A casa dos meus pais. Domingos de manhã. O meu pai a ler o jornal, a minha mãe a fazer bifes com açorda para o almoço. Eu, pequenina, sentada no chão a fazer construções, atenta às palavras. Atenta à música. O disco a rodar. O Xico e o Caetano. Dizem que ainda mal falava e já cantarolava as canções deles. Fazem parte de mim, são família. Cresci com eles, com o poder da sua música, do seus poemas.
Ainda hoje me sinto reconfortada ao ouvi-los. Como se voltasse ao ser pequeno e curioso que fui. Como se voltasse a casa, ao colo do meu pai, que cheirava a aftershave e tabaco. Aos domingos solarengos e preguiçosos. Quando o mundo lá fora se punha quieto e silencioso, só para ouvir o Xico e o Caetano.

Communication Breakdown



Nunca estamos à espera. Achamos que nos conhecemos, que nos entendemos. As afinidades multiplicam-se e ficamos seguros na relação com o(s) outro(s). Entramos em modo de cruzeiro, tudo corre bem. E, de repente, sem aviso prévio... communication breakdown!
Alô?!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Conversa e Cappuccinos



Noites tranquilas. Conversa e cappuccinos. Ensaios e teorias sobre o futuro. Eu iria para África, era certo. Ele para o Alentejo. Revíamos todos os passos em direcção a esses futuros que seriam brilhantes, perfeitos, realizados. A conversa fluía como água. O estado do mundo, da humanidade. Teorias de caos e de ordem. A informação que trazíamos da academia e da rua desmistificada, analisada, criticada.
Diferentes em quase tudo o que seria mais superficial, rapidamente percebemos que reuníamos afinidades importantes e profundas. O mesmo signo e um certo respeito mútuo que nos fez sempre parar ao sentir que a fera estava prestes a saltar de dentro de nós. Mas mais do que tudo, o humor, a teatralidade. A cumplicidade na forma de caricaturar tudo à nossa volta.
Curiosamente, pensei escolher a OST do "África Minha" para musicar este texto. Nas tais noites de conversa e cappuccinos, era banda sonora habitual. Mas depois lembrei-me "da nossa canção". Só podia ser esta!
Continuamos amigos. Ele não foi o Alentejo, eu não fui para África. Os nossos presentes fazem-se de momentos brilhantes, perfeitos, realizados.

Passeio

Fui passear até outras paragens, a convite de uma amiga...

http://pachadrom.blogspot.com/2009/02/v-de-viuva.html