terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Free as a bird



Guardei dele um momento muito concreto que visito sempre que tenho saudades. Em cima de uma bicicleta, demasiadamente pequena para os seus metro e noventa e qualquer coisa, a cantar esta canção. O sorriso enorme. Do tamanho do mundo. Seria talvez o segundo dia de um novo ano. A passagem de ano tinha sido intensa, há vários dias que festejávamos. Mas a festa tinha chegado ao fim, a maioria já tinha rumado a Lisboa, deixando uma meia dúzia de nós a gozar tranquilamente aquele último dia no campo. Estava um dia lindo, o sol brilhava e aquecia-nos os corpos cansados de tanta farra. Tínhamos um ano novo para gozar e a ideia subliminar de que éramos imortais, de que estaríamos sempre juntos.
Depois surgem-me flashes de outros momentos. Sempre o sorriso do tamanho do mundo. Ao anunciar que estava finalmente apaixonado, ou quando nos disse que ia ser pai. Foi o primeiro de todos nós a dar esse passo gigante. Começar uma família. Na altura, para mim pelo menos, tudo isso era ainda uma miragem. Lá longe...
A distância entre os nossos estilos de vida aumentava mas a amizade permaneceu intacta e estendeu-se à família que construía. Esteve sempre lá, sem julgamentos nem falsas moralidades. Aceitava os outros e a vida com uma naturalidade invejável. Uma pessoa simples, naquilo que a simplicidade tem de mais maravilhoso.
E inevitavelmente chego ao dia em que o telefone tocou e uma voz embargada do outro lado anunciou que ele tinha morrido. Assim, sem mais nem menos. Os dias seguintes foram como um pesadelo do qual nenhum de nós conseguia sair. Mais uma vez nos encontrávamos perante a morte e seus desígnios indecifráveis e avassaladores. Mais uma vez caminhávamos juntos e em silêncio pelo cemitério para nos despedirmos de um amigo. Da última vez, apenas um ano antes, havia percorrido o mesmo caminho de mão dada com aquele que agora tinha, infelizmente, o papel principal. Algures pelo caminho aquele momento surgiu na minha cabeça. A canção, a bicicleta, o sorriso do tamanho do mundo. Nada que pudesse aliviar aquela realidade cruel mas, de alguma forma, guardei-o ali. E é lá que regresso sempre que preciso.
A frase que dá início ao vídeo diz - " The dream is not over". Acredito que sim. Que o sonho vive, apesar dos pesares. E creio ser nossa obrigação, dos que ainda andam por cá, trocar sorrisos do tamanho do mundo. Sempre que possível, por tudo ou por nada.

Free As A Bird
Lennon/McCartney/Harrison/Starkey

Free as a bird,
it's the next best thing to be.
Free as a bird.

Home, home and dry,
like a homing bird I'll fly
as a bird on wings.

Whatever happened to
the life that we once knew?
Can we really live without each other?

Where did we lose the touch
that seemed to mean so much?
It always made me feel so...

Free as a bird,
like the next best thing to be.
Free as a bird.

Home, home and dry,
like a homing bird I'll fly
as a bird on wings.

Whatever happened to
the life that we once knew?
Always made me feel so free.

Free as a bird.
It's the next best thing to be.
Free as a bird.
Free as a bird.
Free as a bird.


PS - Feliz Ano Novo para todos, cheio de música e sorrisos!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Rock Foleiro



No outro dia ouvi o Nuno Markl dizer uma coisa maravilhosa com a qual me identifiquei imediatamente. Foi qualquer coisa como: " Nada como rock foleiro para começar o dia bem disposto". Concordo em absoluto. Aliás, não só para começar o dia mas para várias situações. Tomar banho, conduzir, e, a minha preferida, para limpezas e arrumações. Nada com uma boa selecção de rock foleiro para ganhar ânimo e realizar alegremente qualquer tarefa, por mais chata que seja.
Penso que haverá muito mais gente a pensar assim. Talvez poucas pessoas o admitam, uma vez que os gostos musicais são tidos como importantes indicadores de personalidade. Hipocrisias e pressões sociais...
Bom, deixo-vos com uma das rockalhadas foleiras que mais gosto, "Don't stop believing" dos Journey. Excelente para limpezas, com a vantagem de ter passado tanto nas discos quando eu era miúda que me traz sempre imensas recordações !

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Grande Momento



Intro

Ontem um amigo muito especial chamou-me a atenção para o facto da Juke ainda não ter Pearl Jam. Banda incontornável para muitos, essencial para mim. Os dois primeiros álbuns foram autênticas bíblias musicais, talvez os dois álbuns que mais vezes ouvi em toda a minha vida. E aí reside a dificuldade. As regras querem inverter-se. Porque a música de que falo acompanhou-me, durante tanto tempo, e de forma tão intensa, que me é difícil liga-la a momentos concretos (onde é que eu já ouvi isto?). Depois de alguma reflexão, resolvi tentar a sorte. Este será, provavelmente, o primeiro de muitos posts musicados pelos Peal Jam. Afinal, temos que começar por algum lado. E normalmente, o melhor é começar pelo princípio.

Tinha acabado de entrar para a faculdade. O "Ten" era o meu melhor amigo. O discman, último presente que recebi do meu pai, rodava 24 sobre 24 o tal álbum. Da tal banda. Que fazia parte do tal movimento. Que estava a mudar a música, que nos estava a mudar a todos. Ou talvez não. Talvez o dito movimento apenas tivesse chegado numa boa hora e se cumprisse ao dar voz, ritmo e melodia aquilo que todos sentíamos. O fim da inocência, o confronto inevitável com o real. Eu, pessoalmente, não ouvia mais nada, não sentia mais nada. Dormia de phones, o álbum em repeat tocava toda a noite. Para que não ouvisse mais nada.
O ambiente académico foi uma desilusão imediata, começando pelas estupidificantes praxes e afins. Os professores eram velhos, a matéria desactualizada.
E as aulas começavam tão cedo...
Mas para cada Inferno colectivo existe um Paraíso individual, e eu encontrei o meu logo no primeiro dia de aulas. Olhei para ela e senti. Respirei fundo e tranquilizei-me. Não estava só. Não éramos iguais, nem por sombras. Tínhamos o mesmo olhar, "apenas" isso. O desespero era tanto que não tivemos qualquer pudor em admitir que nos tínhamos reconhecido logo ali. Metemos conversa, desistimos da apresentação de uma qualquer cadeira e fomos para o café. Nunca mais nos largámos.
Entre muitas outras coisas, partilhamos o "Ten". Vezes infinitas. Fazíamos teses e tratados para cada um dos temas, ou "limitavamo-nos" a ouvi-los em silêncio.
Pelo meio o estudo. Que agora já tinha que ser. De facto. Era necessário estudar, por pouco que fosse. Ou nada feito. Não nos demos mal...
É aqui que me encontrei naquele momento. No momento do "Ten". Que foram, pelos menos, dois anos...
O fim definitivo da inocência, o principio de uma nova etapa, o encontro com uma amizade eterna.
Grande álbum.
Grande momento...

PS - a escolha do vídeo e da canção foi a possível. Os primeiros vídeos oficiais do "Ten" no youtube, não dão para copiar...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Músicas da Rádio IV - O cabaret da coxa



Na sala de partos estavam quase 40º graus. A parteira suava tanto como eu. Ao meu lado, a menina de quinze anos já tinha parido o seu bebé, mas os seus gritos abafados permaneciam nos meus ouvidos como uma promessa de sofrimento.
Vai doer ainda mais????!!!
O parto não estava a ser fácil e há muito tempo que tinha perdido o controle. Pela dor, pelo medo, pela enorme angústia de nos ver (a mim e ao bebé) entregues, em total e assumida fragilidade, aquele ambiente estranho e desumanizado. E digo desumanizado não pela ausência de seres humanos, que este meu primeiro parto, segundo palavras da própria parteira,"parecia o cabaret da coxa!". A parteira, duas médicas, duas enfermeiras,um pediatra, uma tia avó parteira reformada e o meu homem. Deste magnífico corpo de baile de touca e bata, só o meu homem e a parteira contrariavam a realidade desumana e caótica. Com a calma possível e sempre pela positiva, tentavam que eu me concentrasse. A famosa epidural não tinha produzido qualquer efeito e as dores trespassavam-me como facas. E toda aquela gente de um lado para o outro gritando-me ordens desconexas e absurdas: "Cala-te!" - gritava a tia avó parteira, "faça força como se estivesse a fazer cocó" - dizia uma das médicas, "já se vê a cabeça lá ao fundo!" - gritava o pediatra encostado à parede de braços cruzados como se estivesse a assistir a um espectáculo qualquer.
"Olhe só para mim, oiça-me só a mim" - implorava a parteira com as gotas de suor a descerem-lhe pela face. "Já não consigo, já não posso mais...". Sentia as forças desaparecerem e não conseguia respirar porque uma das enfermeiras se tinha deitado por cima da minha barriga para empurrar a bebé para baixo. Lia na cara da parteira e do meu homem sinais de preocupação e o meu pânico aumentava. "Não vou conseguir, não vou conseguir...".
Havia um pequeno rádio na sala de partos. Acho que estava sintonizado na RFM, o que poderia ser uma verdadeira catástrofe noutro contexto. Ali, qualquer estação, qualquer tipo de música era por si só positivo. Não me lembro do momento exacto, mas esta canção soou pela sala. "Bring me to life"... nem de propósito!
Pouco tempo depois, sempre fixada na parteira e no meu homem a seu lado, acatei a ordem de fazer toda a força possível. "Ela vem aí! Tem o cabelo preto!" - dizia o meu homem emocionado. Fiz ainda mais força e a minha primeira filha saiu para o mundo. Quase não chorou. A parteira segurava-a nas mãos e levantou os braços para que a pudesse ver. Ainda ligada a mim pelo cordão. Uma bebé perfeita, linda e estranhamente tranquila. Primeiro o alívio, depois a indescritível emoção. Ria e chorava ao mesmo tempo e só conseguia repetir baixinho - "a nossa filha... que linda, que linda...".
Os milagres acontecem, realmente. Em qualquer sítio. Até em cabarets da coxa...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O poder da música



Este vídeo absolutamente delicioso foi produzido pelo movimento Playing for Change. Sempre acreditei no poder da música para mudar o mundo. Aqui está um exemplo disso.
Mais info em www.playingforchange.com

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Master!



Heavy Metal. Se tivesse que eleger uma música, apenas uma, seria esta. Master of Puppets. Lembro-me da primeira vez que a ouvi, em vinil, num dos famosos quartos já aqui descritos. Lembro-me da primeira vez que a ouvi ao vivo, no estádio de Alvalade, primeiro concerto de Metallica em Portugal. Um concerto histórico, um dia histórico. Os metálicos portugueses, lágrimas nos olhos, após dez anos de espera, rendiam-se ao profissionalismo emotivo da banda. E a banda rendia-se à histeria colectiva que os abraçava. O melhor concerto que vi até hoje.
Lembro-me do fantástico e saudoso Johnny Guitar, à pinha, numa nuvem de cabelos ondulantes e de vozes repetindo - "Master, Master". Lembro-me do meu pai passar pelo quarto e pedir - "Põe lá isso do princípio... Hummmmm, este tipos são mesmo bons. Até que enfim começaste a ouvir música a sério!".
E fico sem palavras. O poder do som atravessa-me, como da primeira vez.
Curiosamente, a letra é altamente pedagógica. Sem sombra de moralismo, dá-nos nua e crua, a realidade das dependências. O que só é inesperado para quem não conhece Metallica. Para mim, até hoje, continuam a ser a melhor banda do mundo.
Metallica!

End of passion play, crumbling away
I'm your source of self-destruction
Veins that pump with fear
Sucking darkest clear
Leading on your death's construction

Taste me you will see
More is all you need
You’re dedicated to
How I'm killing you

Come crawling faster
Obey your Master
Your life burns faster
Obey your Master
Master

Master of Puppets
I'm pulling your strings
Twisting your mind and smashing your dreams
Blinded by me, you can't see a thing
Just call my name, ‘cause I'll hear you scream
Master
Master
Just call my name, ‘cause I'll hear you scream
Master
Master

Needlework the way, never you betray
Life of death becoming clearer
Pain monopoly, ritual misery
Chop your breakfast on a mirror

Master
Master
Where’s the dream that I've been after?
Master
Master
You promised only lies
Laughter
Laughter
All I hear and see is laughter
Laughter
Laughter
Laughing at my cries

Hell is worth all that, natural habitat
Just a rhyme without a reason
Never ending maze
Drift on numbered days
Now your life is out of season

I will occupy
I will help you die
I will run through you
Now I rule you too

Dance, dance, dance!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



Estava grávida pela segunda vez quando esta canção invadiu a rádio. Adoro o David Fonseca, desde os tempos dos Silence 4, mas este tema é, sem dúvida alguma, o meu preferido. Lembro-me de dançar até à exaustão com a minha filha mais velha pela mão e a mais pequena aos pulos dentro de mim. É-me completamente impossível ficar quieta ao ouvi-la. Foi eleita por mim a canção da descompressão. Quando tudo corre mal, é só pô-la a tocar o mais alto possível e dançar, dançar, dançar. As míudas seguem o exemplo e pulam, pulam, pulam. Tudo isto acontece normalmente na nossa cozinha, tantas vezes transformada em pista de dança. Tal como na letra, os meus dias de rainha da discoteca já lá vão. Agora improvisam-se outras pistas e outras danças. Irrelevante, o importante é continuar a dançar "like you were sixteen". O corpo e a mente agradecem, mesmo. Experimentem!


You saw me sitting in the corner
And you just sat there right next to me
You asked me - "are you feeling lonely?" -
Well lonleliness is just a word, you see

I came in here just for the music
For all the things that it makes me feel
I came to exorcise my demons
To bury those days when only pain was real

Treat me right
My dreams will come true tonight
Come with me
Set me free
We'll be alright

I should have met you in the 80's
Back when I was the dance floor queen
Maybe you think that I'm too old for dancing
You should have met when I was sixteen

Dance! You know what I mean
Dance! Like you were sixteen

Hey! Hey! Hey!

Tonight I'm drinking myself sober
'Till I see what I want to see
A few more drinks and you'll be the perfect lover
You will be the one that I truly believe

That is right
My dreams will come true tonight
Come with me
Set me free
We'll be alright

I should have met you in the 80's
Back when I was the dance floor queen
Maybe you think that I'm too old for dancing
You should have met me when I was sixteen

Dance! Like I was sixteen
Dance! You know what I mean

Hey! Hey! Hey!

I should have met you in the 80's
Back when I was the dance floor queen
Maybe you think that I'm too old for dancing
You should have met me, I should have kissed you

I should have kissed you in the 80's
Back when I was young and free
Maybe you think that I'm too old for loving
Tonight I'll make love me

Dance! Like you were sixteen
Dance! You know what I mean

Dance! Like you were sixteen
Dance! You know what I mean

Dance! I will set me free
Dance! Like I was sixteen

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O Cámone


Lembro-me como se fosse hoje. Na tal casa em frente à escola. O Cámone, sentado na mesa da cozinha num final de tarde, disse-me: "You gotta listen to this. Rage against the machine. It's something complety diferent! The guitar, listen to the guitar." Fiquei extasiada. A música era fantástica, as letras fortíssimas e aquela guitarra era realmente de outro mundo!
Até hoje, sempre que oiço Rage lembro-me dele. O nosso Cámone. Foi namorado de uma amiga e um grande amigo para todos. Um holandês, de Amesterdão, viajado, um homem de muitos ofícios, sem medo da vida e das suas curvas imprevisíveis. Um cidadão do mundo, olhos atentos, sinceros e inocentes. Ensinou-me muita coisa (como a máxima que se tornou minha também: "pão e tabaco não se nega a ninguém") e espantou-nos a todos ao eleger os portugueses como os "mais malucos". O que dito por um holandês de Amesterdão tem o seu impacto... Ele espantava-se com outras coisas, sobretudo com a forma como vivíamos as relações familiares. "Vocês vivem mergulhados e embrulhados nas vossas famílias", dizia-me muitas vezes."Para mim é pouco saudável, doentio mesmo. Não aguentaria viver assim".
Adorava os livros da Turma da Mônica e as suas primeiras aventuras na língua portuguesa eram uma salada recheada com termos muito brasileiros e muito infantis. Delicioso! Vivemos muitas aventuras juntos, mas a minha preferida foi uma invasão nocturna ao Castelo de São Jorge. Trepámos um gigantesco portão e andámos horas em exploração. Uma experiência fantástica e imprópria para cardíacos (Buuuuuuu....).
Há uns anos voltou a Portugal e visitou-me. Eu estava a viver no campo, na altura. Passámos um dia óptimo mas na hora da despedida, um estranho abraço muito apertado e uns olhos cheios de lágrimas fizeram-me perceber. Tinha vindo despedir-se. Não para sempre, acredito. Mas estaria a fechar um qualquer ciclo da vida dele ao qual eu estava ligada.
Tenho saudades e a certeza que o voltarei a ver. Por enquanto, ficam os Rage Against the Machine...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Música de Bruxas



Vivíamos entre Lisboa e Madrid. As duas cidades eram separadas por uma viagem surreal de autocarro que durava cerca de 9 horas. Metade da semana cá, metade da semana lá. A velocidade das nossas vidas só era suportada pela nossa juventude e pela amizade forte que nos unia.
E há tantas histórias para contar! O choque cultural com os "nuestros hermanos", a faculdade, os senhorios, as noitadas madrilenas, as excursões ao Rainha Sofia para ver outra e outra vez o Picasso, o Miró e o Dali, a árvore das siestas no Campus, os amigos argelinos, a forma como fomos descobrindo aquela cidade que ficou também um bocadinho nossa. As experiências que só podemos viver longe de casa, como os olhos se encherem de lágrimas quando, na semana portuguesa do El Corte Ingles, nos deparámos com embalagens de leite Mimosa e vinho alentejano!
E a casa que conseguimos alugar após uma verdadeira odisseia ... Muito bem situada, no coração da cidade. Um pequeno bunker no alto de um prédio. Uma única janela, minúsculo quadrado junto ao tecto na sala, pela qual a Lua passava às vezes, em jeito de consolo. Os jantares à oriental (porque não tínhamos cadeiras), regados com vinho Rioja e muitos ataques de riso (ainda temos que apanhar uma bebedeira hoje!). A hora de ponta no wc, entre rimel e blush, e mais uns quantos ataques de riso. "Las Espice Girls", a mil à hora mas sempre em grande estilo!
Este álbum dos Portishead tocava muito no nosso pequeno bunker madrileno. A Elsa dizia sempre que era música de bruxas. Tal como nós... Uma irmandade no feminino, forte e inquebrável.
"Espice Girls Forever!"

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... Beautiful Day


O meu secreto voyeurismo pela Juke, deveu-se ao estranho ambiente de nostalgia com que retratam as nossas memórias de adolescentes. Pessoal, a vida ainda agora começou – depois eu é que era a taradinha de pensar nos tempos da reforma heim?! Fico confusa, sorrio e “agarrada” à memória dos tempos que já lá vão, desprendo-me... Bem, mas o trabalho tem de ser feito e respondendo ao desafio da minha amiga do coração: lembrei-me de várias: Tiger, do filme com o teu sex symbol, Silvester Stalone – acho que adoravas ver-me a gostar dessa música em especial - , dos Waterboys, faz-me sempre lembrar as chegadas nocturnas de Tavira ao conforto da casa das Pedras e...e...adormecer a ouvir os teus relatos pormenorizados de tudo que tínhamos vivido em cada uma das noitadas, Pearl Jam – e as simulações de cantoras de rock, que adorarias ter sido (ainda acho que tens voz e atitude, aliás) e os “fictícios (e)namorados” Axel, Kurt Cobain, e (prémio para o magnifico) Bono. Muitas outras músicas, sempre acompanhadas para cada aventura diária, com uma estação de rádio, que qualquer que fosse a hora, tu encontravas a melhor frequência....todas as músicas pareciam ter sido escolhidas a dedo, e era sempre o acaso dos teus dedos na aparelhagem. Como este post já está longo, fica por agora, uma música...dos tempos de hoje, que me põe bem-disposta, dotada de ambiente para o romance e festa! Viva o romance, as relações, os amigos, filhos, família e muitos, muitos anos de vida! Deixo aqui uma dos U2, banda intemporal...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Músicas da Rádio (e TV) III... Anatomia do choro

Intro

Depois de passar alguns dias sem escrever, já me ardem as mãos. Tantas ideias, nem sei por onde continuar...
Sempre quis que este espaço não fosse só meu e parece que consegui. Obrigada a todos pela cumplicidade, partilhando as suas jukes, comentando, ou simplesmente seguindo silenciosamente o blog. Não faria sentido de outra forma!
Bom, e sem mais demoras... música! Liga-se a jukebox, vamos ver o que sai...



A Anatomia de Grey é dos poucos vícios televisivos que ainda possuo. Terça-feira, depois do Jornal 2 (por agora não, devem estar a juntar dinheiro para a próxima temporada). Despacho tudo a correr para me poder sentar e, durante quase uma hora, viver outras vidas. Vidas cheias de emoções, peripécias, lições mais ou menos moralistas. Outras vidas, outros empregos, outras famílias, outros amigos. Dramas impressionantes vividos à dúzia por episódio. Às vezes lá cai uma lágrima. Mas nunca como naquele episódio.
O meu dia de trabalho tinha sido difícil. As miúdas não me deram tréguas e o meu homem estava zangado. Só me apetecia chorar. Há tantos dias em que me apetece chorar... Mas deixei de conseguir, pelo menos com a facilidade de outros tempos. Às vezes sinto que me bastava chorar. Mas não sai nada. Nada.
Naquela noite, valia-me a Anatomia. O enredo complicara-se, o episódio seria, com certeza, emocionante. E foi. Uma correria, em todos os sentidos. Mas tudo parecia seguir em direcção a um final feliz. A minha personagem preferida ia casar com o homem da sua vida, que recuperava de um problema cardíaco gravíssimo. Ela estava feliz, eu estava feliz com ela. Mas num golpe habitual nestas telenovelas, o homem, lindo, jovem e apaixonado, morre como um pássaro, sem que nada nem ninguém lhe pudesse valer. Não queria acreditar. Era demais, até para a Anatomia de Grey! Chorei convulsivamente ao som desta canção, que faz parte da banda sonora da série, mas que já me tinha prendido quando tocava na rádio. Chorei muito e durante muito tempo. Já a série tinha acabado e eu permanecia no sofá, a soluçar, a cara já inchada de tanto choro. Chorei pela minha personagem preferida e pelo seu amor morto. Chorei pelo profundo cansaço que o meu trabalho me traz tantas vezes. Chorei pelas zangas conjugais, chorei pela disponibilidade que às vezes não tenho para as minhas filhas. Chorei por tudo o que é importante e por esta vida maluca que nos afasta disso, do que é realmente importante.
Chorei, chorei, chorei.
Finalmente.

PS - este post e sobretudo esta canção é dedicada às 3 pessoas mais importantes da minha vida.
"All that I am, all that I ever was, is here in your perfect eyes, they're all I can see"

E porque jukeboxes há muitas... I Know



Dizer que a música aproxima as pessoas é um lugar-comum. Mas nem por isso deixa de ser verdade...
Há um poema de Saint-Exupéry que gostamos particularmente e que não nos cansamos de ler, citar ou invocar. E fazemo-lo agora, porque ali aparece escrito que cada um que passa na nossa vida “Leva um pouco de nós e deixa-nos um pouco de si”. E fazemo-lo porque não podia ser mais verdadeiro e adequado.
Esta amizade começou pela descoberta de sermos ambos "drunfas", utilizando aqui uma expressão da autora deste blog. Um gosto comum encontrado por mero acaso, como quando tropeçamos inadvertidamente em algo, que nos faz parar, voltar atrás, olhar e perceber onde foi. E descobrimos isso pela Fiona Apple. O passo seguinte foi trocar os álbuns, até termos ambos a "caderneta completa". Seguiu-se a partilha de outras músicas, outros grupos, outros Duendes... E assim se foi fazendo a banda sonora desta amizade que temos vindo a descobrir e a construir, faixa a faixa, onde cada um vai guardando um pouco do outro e oferendo um pouco de si. E com esta troca, a partilha de pedaços da vida de cada um. E por isso se diz que a música aproxima as pessoas.
Quando partilhamos músicas, sobretudo aquelas que para nós são especiais, estamos a dividir com alguém algo mais do que a mera sonoridade: estamos a trocar alegrias, tristezas, histórias, formas de pensar… Afinal, nós próprios. Quase como se disséssemos: diz-me o que ouves, dir-te-ei quem és! Ou diz-me o que ouves, diz-me quem és!
Meses mais tarde, e muita música partilhada, descobrimos ser esta a nossa música preferida da Fiona. Aqui fica, numa versão emotiva. Drunfa! Não poderia ser outra.


I Know

So be it, I'm your crowbar
If that's what I am so far
Until you get out of this mess
And I will pretend
That I don't know of your sins
Until you are ready to confess
But all the time, all the time
I'll know, I'll know

And you can use my skin
To bury secrets in
And I will settle you down
And at my own suggestion
I will ask no questions
While I do my thing in the background
But all the time, all the time
I'll know, I'll know

Baby, I can't help you out while she's still around
So for the time being, I'm being patient
And amidst this bitterness
If you'll just consider this
Even if it don't make sense all the time, give it time
And when the crowd becomes your burden
And you've early closed your curtains
I'll wait by the backstage door
While you try to find the lines to speak your mind
And pry it open, hoping for an encore
And if it gets too late for me to wait
For you to find you love me, and tell me so
It's ok, don't need to say it


El B e LP – Duo Drunfo