quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Crise de meia idade



É oficial. Acabei de passar uma crise de meia idade. Fazer 35 anos deu-me volta à cabeça. De repente, percebi que daqui a 5 anos terei 40. Mas como? Ainda ontem tinha 20!!! Mais que isso, invadiu-me uma sensação de que a vida já tinha passado por mim, intensa e inesgotável, e agora se transformava num monótono cumprimento de tarefas, num rol de responsabilidades de longo prazo que apenas me libertariam para me deixarem velha e sem forças para mais nada. Pensei em tudo o que não fiz e no que já não farei. O frio e a chuva empurraram-me ainda mais para dentro, para o fundo. Deixei-me ficar enrolada num frio desconfortável que uma vez instalado se tornou suportável. Nem ousei levantar-me para me cobrir com uma manta, embora a dita estivesse quase ao alcance de uma mão.
No final do ano uma amiga enviou-me uma mensagem com uma citação do Agostinho da Silva que dizia assim:

“O que a vida apresenta de pior não é a violenta catástrofe, mas a monotonia dos momentos semelhantes; numa ou se morre ou se vence, na outra verás que o maior número nem venceu nem morreu: flutua sem norte, sem esperança. Não te deixes derrubar pela insignificância dos pequenos movimentos e serás homem para os grandes; se jamais te faltar a coragem para afrontar os dias em que nada se passa, poderás sem receio esperar os tempos em que o mundo se vira”

Foi o início do regresso à luz. Se continuasse no meu desconforto confortável, realizando tarefas quase maquinalmente iria tornar-me uma dos tais "flutuantes". Nada disso está em mim. Não nasci para flutuar pela vida, e os meus 35 anos afirmam isto com toda a certeza. Aliás, gritam-me isso aos ouvidos, eu é que tinha escolhido não ouvir...

O regresso é sempre mais lento do que desejamos e há dias em que as "recaídas" ameaçam instalar-se. Mas a minha energia voltou e com ela o apelo à evolução, à procura da luz e do equilíbrio. E essa é uma busca sem tempo nem idade.


PS - este post é dedicado ao Pedro, pela paciência e eterna cumplicidade e à Elsa e ao Hugo, dois amigos que mesmo ao longe intuiram o meu vazio e vieram em meu auxílio. Lov u all!