domingo, 30 de novembro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... Time



Time
(Mason, Waters, Wright, Gilmour) 7:06

Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an offhand way.
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way.

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain.
You are young and life is long and there is time to kill today.
And then one day you find ten years have got behind you.
No one told you when to run, you missed the starting gun.

So you run and you run to catch up with the sun but it's sinking
Racing around to come up behind you again.
The sun is the same in a relative way but you're older,
Shorter of breath and one day closer to death.

Every year is getting shorter never seem to find the time.
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the English way
The time is gone, the song is over,
Thought I'd something more to say.


Fui convidado para colaborar e contribuir para este espaço! Um prazer, sem dúvida...
Um desafio levado a sério, talvez até demais. O mote, uma música! Uma música que representasse uma parte, um trecho, um caminho palmilhado da minha vida!
Estive lá quase, mas quando escolhia uma música, tentava escrever e não saía nada! Não era bem aquilo!
Hoje, regressei a um sítio onde vou muitas vezes...Pink Floyd...para mim a melhor banda de todos os tempos...intemporal, a vida como ela é... Nem é preciso ler ou saber as letras, embora se perca se não se fizer!!!
Uma altura da minha vida, uma música...
Sorry Cat, não consigo... Porque a música sempre andou aqui, em todos os géneros, mas estes é que ficam sempre...Não são de uma altura da minha vida, são da minha vida...desde os três anos.
Não consigo porque a minha cabeça não quer, não deixa, não pára!
E isso é bom!
Esta não diz tudo, mas diz muito! Também diz que nunca é tarde...
Recomendo que oiçam a que vem logo a seguir, The Great Gig In the sky! Que ouçam o resto do álbum todo! Ou que ouçam, como deve ser ouvido... Da primeira à última...sem interrupções!

Jakk in and from a boxx

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Times like these



Vou descansar uns dias. Tem sido muito desafiante mas cansativo. Isto de partilhar palavras tem que se lhe diga... Enquanto guardo umas quantas só para mim, deixo-vos música...claro!
Uma das minhas canções preferidas de sempre, para sempre. Um caso de amor ao primeiro acorde.
Aproveitem para enviar as vossas jukes!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Wild Child



Chovia torrencialmente. Da saída do metro até casa dele fiquei completamente ensopada. Estava furiosa, já não me lembro porquê. Como sempre, ele ia desconstruindo a minha zanga com o seu humor meio corrosivo meio amoroso. E como sempre, eu ficava ainda mais furiosa, até ser vencida pelo riso que já não conseguia conter.
Mais calma e já com roupas secas e quentes, deitei-me na cama estreitinha do quarto dele. Enquanto ele encomendava uma pizza de bacon e ananás para o nosso almoço tardio, eu perdia-me nas imagens que forravam as paredes do quarto. Posters do inacreditavelmente feio vocalista dos Twisted Sister, recortes de revistas com fotografias impressionantes estilo world press photo, bilhetes de concertos, pranchas de BD, enfim... O mundo segundo o proprietário daquela pequena divisão.
Naquele quarto a música também era uma constante. Sérgio Godinho, Metallica, Zeca Afonso, Twisted Sister, Xico Buarque, W.A.S.P., Vinícius de Moraes, Manowar... Tal como as paredes, a banda sonora era uma grande colagem, o mundo segundo o proprietário do velho gravador...
Naquela tarde, que não sei bem porquê, ficou fielmente registada na minha memória, a banda sonora foi W.A.S.P. e o seu "Electric Circus". Mesmo hoje, quando vi e ouvi o vídeo, embora tenha soltado umas valentes gargalhadas, ainda senti aquela ânsia que só os primeiros amores nos trazem...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Músicas da Rádio II



Viviam no campo. Primeiros tempos de vida a dois. Tempo de mudanças, muitas mudanças. Ele tinha resolvido dar-se um tempo. Parar, olhar, pensar e repensar a vida, o caminho. Ela tinha chegado à pouco de uma viagem semelhante e tentava aplicar a teoria à realidade. Sentiam-se seguros naquele amor. Tudo o resto era questionável.
Os dias eram longos e solarengos, por vezes pesados demais. Isto de parar e olhar para dentro de nós implica sempre uma dose considerável de sofrimento. Mas a vida no campo desvendava-lhes segredos importantes. Os vizinhos e amigos entravam-lhes pela casa adentro porque a porta estava aberta. Rapidamente perdiam os "vícios" urbanos e aprendiam não só a viver com a porta aberta mas a aproveitar as portas que se abriam para eles.
O holandês que aprendia português a ler livros de provérbios e que fazia pão todas as manhãs para partilhar com os vizinhos, a mulher alentejana com jeitos maternais que tinha sempre uma história para contar. Estas e outras personagens entravam nas suas vidas, na sua casa, misturavam-se com o momento que viviam. Até os espíritos pareciam usufruir das portas abertas...
Cada uma das personagens lhes trazia mais uma pista, mais uma peça. Tudo parecia começar a encaixar-se. Mas ela interrogava-se se não o iria perder no meio de tanta (des)construção. E ele interrogava-se se ela ficaria para um qualquer desfecho que ele ainda desconhecia.
Mas tudo passa, e aquele momento também passou. Ninguém se perdeu. Foi apenas o primeiro de muitos puzzles que construíram juntos.
Hoje já não vivem no campo mas esforçam-se por manter a porta aberta. Nunca se sabe quando nos surge a peça que procuramos...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... A Mula da Cooperativa



Eu quando era miúda tinha dois irmãos. Volta não volta, partíamos com o meu pai numas prospecções ao Portugal profundo. Não havia auto-estradas, mas havia espaço à vontade na Toyota Hiace para aguentar as longas horas de viagem. Também não havia a mania dos cintos de segurança, de modo que ocupávamos o tempo a correr dentro da carrinha, a fazer caretas e coisas várias pelas janelas, ou a esmagar o irmão mais próximo contra o banco mais próximo. Também se cantavam umas músicas e a da Mula da Cooperativa tornou-se um clássico.

Inês

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Caminhadas Nocturnas



Em altos berros nos carros, em festas, no banho, em excursões da escola, em quartos de amigos, nas férias, esta canção e este álbum estiveram sempre lá. Mais do que os Violent Femmes, recordo as vozes a cantar à capela. "I take one, one, one 'cause you left me, two, two, two for...". E surgem-me imagens dos nossos percursos a pé na noite de Lisboa quando o Bairro Alto fechava portas e era hora de "descer" para outras paragens. Correr a Calçada do Combro rumo a Santos ou improvisar atalhos em direcção ao Cais do Sodré, a descer todos os santos ajudam! Como naquela altura o aumento da criminalidade não aparecia nas notícias, aliás a polícia era mais temida que os criminosos, iamos tranquilos e a cantar. A cidade era nossa, inventávamos e reinventávamos percursos e, aquecidos pela agitação nocturna, raramente precisávamos de motorista. Foi assim que conheci Lisboa profundamente, que lhe tomei o pulso. Descobri as suas múltiplas dimensões, as suas belezas e virtudes, as suas misérias e angústias. Sobretudo, foi assim que eu e a cidade nos fundimos, numa ligação tão profunda que julgo inquebrável.
A minha geração foi provavelmente a última a poder gozar estes passeios guiados pela lua. Sinais do tempo...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Conta-me Histórias



Estava naquela fase aterradora. O corpo a mudar, a puxar por mim. E eu sem saber quem era, e muito menos o que era isso de ser mulher. Já não brincava com bonecas mas ainda não me deixavam sair à noite. Sentia-me a pessoa mais infeliz e incompreendida de todo o universo, ainda por cima com borbulhas. Foi por essa altura que chegou à minha turma um repetente muito especial. Especial porque criámos quase de imediato uma amizade que dura até hoje.
Além de ser um ano mais velho, ele vivia uma vida com a qual todos nós apenas sonhávamos. Tinha mota, uma namorada com 18 anos que praticamente vivia em casa dele e a liberdade de ir, vir, como queria, quando queria (ou assim nós imaginávamos...).
Os primeiros tempos da nossa amizade foram coloridos por um flirt constante, o que me agradava muito. Os outros miúdos, imberbes e borbulhentos não me interessavam nada. E os mais velhos ignoravam-me... por ser imberbe e borbulhenta! A experiência que ele já tinha nos amores deixavam os meus inexperientes 14 anos absolutamente rendidos. E havia outra coisa que nos ligava... a música. Tal como eu, ele passava o tempo a cantar, aliás, tinha muito boa voz. De toda a música que descobri e partilhei com ele, ficou-me sobretudo a dos Xutos. Foi com ele que explorei pela primeira vez os álbuns mais antigos ("que isso do Circo de Feras já é muito comercial rapariga, tens que ouvir o Cerco!").
O "Conta-me histórias", que ouvi repetidamente até a cassete se partir, é sem dúvida, a canção que ficou mais ligada a esta fase da minha vida e ao nosso encontro.
A minha vontade de viver coisas que ainda não me eram permitidas e que me chegavam pelas histórias que ele contava. A minha pressa de crescer. A descoberta de mim e do outro. O corte definitivo com a infância e o início de outra gigantesca aventura...

E porque jukeboxes há muitas... Dumb

Intro
Dizia eu que a Cat’s Jukebox tem permitido que rebusque a minha Jukebox. Que oiço as músicas e que as sinto da mesma maneira, que me transportam aos mesmos locais, que me trazem os mesmos cheiros e as mesmas emoções… mas oiço-as com ouvidos de ouvir…Ouvidos mais atentos. Ou outros ouvidos. (o pessoal envelhece e vai ganhando cera…)
Foi difícil escolher aquela que queria entregar a esta Jukebox. Mas cá vai com a certeza de ter tomado a melhor opção.



NIRVANA, “DUMB”

O tempo de não querer ser como ninguém. Ser Especial e Único. Ser EU.
O tempo de arriscar, de andar no limbo, “border line”…
Diversão acima de tudo. Copos, fumos… e o que mais houvesse.
Agora sinto saudade dessa sensação de carpe diem.
Hoje, quando oiço qualquer música dos Nirvana, e em especial este tema, fico naquela onda. Com vontade do mesmo. Da mesma irreverência e da mesma atitude. Do mesmo êxtase. Fico com vontade da felicidade e da ressaca curtida em grupo.
Noite na Av. Luísa Tody… nos banquinhos que já lá não estão e nos bares que já não existem. Em 1993/1994 passava largas noites ali. Íamos aos bares apenas para apanhar a cerveja e voltávamos ao banquinho na Avenida. A maralha ficava reunida em grupo. Cada um curtia as suas e todos curtíamos as dos outros. Era (e é) um grupo de cerca de 10 rapazes. E as conversas giravam em torno do costume, para quem tem 15 ou 16 anos: mulheres, futebol, drogas e (alguma) música…como esta.

Agora que penso nisso as conversas ainda andam à volta do mesmo!

Ass. Fumante (www.movimentoprofumo.blogspot.com)

I'm not like them
But I can pretend
The sun is gone
But I have a light
The day is done
But I'm having fun

I think I'm dumb
or maybe just happy
Think I'm just happy
my heart is broke
But I have some glue
help me inhale
And mend it with you
We'll float around
And hang out on clouds
Then we'll come down
And I have a hangover...Have a hangover

Skin the sun
Fall asleep
Wish away
The soul is cheap
Lesson learned
Wish me luck
Soothe the burn
Wake me up

I'm not like them
But I can pretend
The sun is gone
But I have a light
The day is done
But I'm having fun

terça-feira, 4 de novembro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... Maria Albertina

Intro
E porque jukeboxes há muitas, mais uma amiga aceitou o desafio (de tão fartinha que estava deste blog não ter música de jeito!). Assim, deixo-vos com a jukebox da LP e a já mundialmente conhecida...

Maria Albertina




Corria o ano de dois mil e quatro. Estava numa reunião, numa sala que não era a minha. A porta abre-se e a cabeça ruiva da Sãozinha a espreitar: "Posso interromper? É para apresentar uma colega nova... Antropóloga." Antropologia... Que interessante! A colega nova, ainda não a conhecia, mas já tinha créditos na minha consideração. Lembro-me de ter achado piada o facto de uma antropóloga vir trabalhar com os Imigras, ela própria com ar de ter acabado de chegar do Oriente.
Nos tempos que se seguiram, os nossos caminhos foram-se cruzando aqui e ali, as nossas áreas de trabalho a tocarem-se. Lembro-me de certa vez lhe ter perguntado afinal o que é isso de "etnias" e "culturas"? Soltou uma das suas gargalhadas, que se costumam ouvir no "Bolinho", e respondeu-me com sentido de humor: "Isso também nós gostávamos de saber! Quando descobrires avisa!". Pensei: "Temos Dótora!" Nada é mais enervante que os académicos com os conceitos prontos na ponta da língua!
O primeiro momento de cumplicidade que recordo foi num dia de convívio de trabalho. Incluía um pedipaper. Começávamos a trabalhar juntas as questões de género. Resolvemos testar o conceito de conciliação da vida familiar e profissional. Levámos as filhas, bebés de carrinho, ainda. E conseguimos! É claro que os outros elementos do grupo tiveram de andar a passo de caracol, parar e segurar nos carrinhos para contornar toda a espécie de obstáculos na cidade... No final, não sei se tínhamos expandido os nossos conhecimentos sobre o Barroco, mas os nossos colegas tinham aprendido o suficiente sobre barreiras arquitectónicas urbanas...
Um dia, emprestou-me um CD, que andava a ouvir e que estava a adorar. Humanos. Gostei tanto que comprei o CD. Na altura era muito radical com as cópias... Tornou-se a banda sonora dos meses seguintes. A "Maria Albertina" a tocar em repeat lá em casa, música de eleição da minha filha. Houve um concerto no Coliseu. Não pude ir mas a colega trouxe-me um bocadinho do concerto, gravado no telemóvel. Tinha-se lembrado de mim...
A vida profissional a misturar-se com a pessoal. A criarem-se solidariedades femininas, tantas vezes náufragas do mesmo barco, a vivermos com intensidade momentos que com as exigências familiares e profissionais acrescentam um novo sentido à palavra liberdade. A queimar soutiens, a trocar confidências. A chorar, a rir, a gritar e a cantar (mais ela...), em momentos cúmplices.
As Feiras de Sant'Iago a reflectirem momentos decisivos na vida de cada uma de nós e a criarem espaço para a conversa, para a amizade. Pelo meio, organizámos espectáculos, exposições, arrumámos cadeiras, fomos camionistas, angariámos bonés para o chueco frito, escrevemos discursos políticos, fomos dirigentes associativas... Agora andamos a salvar o Planeta, contra os académicos que pretendem espartilhar o mundo em objectivos específicos e gerais, contra o status quo das organizações religiosamente politizadas...
E a acompanhar a construção desta amizade, as filhas. A crescerem e a conviverem em Festas de Pijama que reproduzem os afectos das mães. A brincarem e a inventarem a amizade. A afastarem-se para deixar respirar a relação. Dois temperamentos emotivos. Duas personalidades fortes. Cada uma no seu estilo. Com pêlo na venta!!!
Setembro de 2007. A família almoçava no restaurante do costume. A minha filha, cinco anos feitos há pouco tempo, rabiscava a toalha de papel, como de costume. Volta-se para o tio e diz: "Olha!". Tinha acabado de escrever palavras em letras garrafais, sozinha, pela primeira vez. Na toalha de papel, guardada para a eternidade, estava escrito: MARIA ALBERTINA.

LP.

domingo, 2 de novembro de 2008

Discos proibidos



As duas meninas brincavam no quarto. Eram vizinhas, partilhavam tudo, como irmãs.
"Vamos ao quarto dos teus irmãos buscar aquele disco?", perguntou a mais pequena. "Qual deles?", retornou a maior. "O do homem pequeno com o homem grande, claro!".
Correram pelo corredor até ao quarto junto à cozinha. O estore estava corrido, a luz penetrava em raios pelos pequenos furinhos abertos, dando ao quarto um ambiente de mistério e perigo. A mais pequena subiu as escadas do beliche e sentou-se na cama de cima. A mais velha, com gestos precisos e cuidadosos, procurou na estante o tesouro.
"Achei, está aqui!" "Vamos! Não temos muito tempo...".
O lp rodava no gira-discos da sala. Sentadas no chão, olhos quase fechados. Aquelas vozes extraordinárias cantavam numa língua da qual apenas reconheciam algumas palavras. Estavam proibidas de mexer neles, nos discos. Obviamente a proibição aumentava o desejo. O desejo não só de tocar e explorar os objectos, mas sobretudo, o desejo de conhecer aquela música, aquelas vozes. De fazer parte daquele universo desconhecido mas ao qual intuiam pertencer.
Naqueles sons descobriam as infinitas possibilidades da harmonia, descobriam que o que sentiam por dentro podia sair para o mundo em mil e uma formas. Mesmo os medos e as angústias para as quais não tinham nome, não eram só suas. Não estavam sós. O mundo devolvia-lhes um enorme abraço em forma de música.
A fotografia daqueles dois homens, um par esteticamente improvável, contribuia ainda mais para a revelação. Pequenos e grandes, gordos e magros, novos e velhos, pretos e brancos, todos. Éramos todos iguais e juntos podíamos criar beleza.
Foi com a minha vizinha/irmã Teresa e com Simon and Garfunkel que tive a minha primeira lição de cidadania. De solidariedade. Da importância frulcral de nos darmos aos outros.
Só anos mais tarde pude ler integralmente os poemas desta dupla. Quase nada acrescentou ao meu imaginário. Há muito que havia intuído o seu significado...

sábado, 1 de novembro de 2008

My yellow rose...



Eram tempos diferentes. Tempos com muito tempo. Finalmente. Tomara aquela vida, a minha, nas mãos, e entregava-a. Ao tempo, ao destino, às vontades. Ao imediato.
Aquele quarto, aberto só para mim, como um pedido de intimidade. Um amor imenso, porque nascido e ancorado na amizade, numa irmandade codificada por nós, que naquele tempo era Tudo.
E a música. Partilhada, vivida, sentida. Sempre, sempre música. A música que vinha de um quarto irmão e que ecoava pela casa aparentemente triste. Aparentemente desastrosa. Um palácio de príncipes e princesas melancólicos e aprisonados, mas nunca rendidos.
Discos inteiros cantados ao ouvido, numa voz que, naqueles momentos, vinha dos céus. Só para mim...
"My yellow rose..."
Lembro-me das sombras dos corpos frágeis na parede amarelada, lembro-me de me perder dentro da minha cabeça e entender a sua infinidade. Lembro-me de saber que não estava só. Lembro-me de saber que a salvação estava longe e de não me importar nada que fosse assim. Lembro-me de não querer saber se era dia ou noite.
Foi nessa viagem que mergulhei na obra de Roger Waters. E que viagem...
Uma viagem guiada pelos melhores anfitriões. Uma viagem à introversão, à exploração de nós próprios ao limite. Como bailarina no arame, percorri o caminho sem nunca saber que a rede estava lá. Ou, se calhar, sentindo-a intrinsecamente...
Esta é a minha humilde homenagem aos meus dois irmãos da vida. Um, eternamente meu mano velho, outro, um par que foi sem nunca o poder ser, e que, se calhar por isso mesmo, permanece.
O vídeo é do álbum "Amused to Death", chama-se "We were watching tv". Fala de um massacre. Um massacre, como todos, aproveitado politicamente das mais diversas formas. Aqui, não representa nada disso. "My yellow rose". Essa frase carregada de significado(s), naqueles momentos, era "apenas" uma declaração ao meu ouvido.
Era todo o meu eu compreendido e chorado a dois.