terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Free as a bird



Guardei dele um momento muito concreto que visito sempre que tenho saudades. Em cima de uma bicicleta, demasiadamente pequena para os seus metro e noventa e qualquer coisa, a cantar esta canção. O sorriso enorme. Do tamanho do mundo. Seria talvez o segundo dia de um novo ano. A passagem de ano tinha sido intensa, há vários dias que festejávamos. Mas a festa tinha chegado ao fim, a maioria já tinha rumado a Lisboa, deixando uma meia dúzia de nós a gozar tranquilamente aquele último dia no campo. Estava um dia lindo, o sol brilhava e aquecia-nos os corpos cansados de tanta farra. Tínhamos um ano novo para gozar e a ideia subliminar de que éramos imortais, de que estaríamos sempre juntos.
Depois surgem-me flashes de outros momentos. Sempre o sorriso do tamanho do mundo. Ao anunciar que estava finalmente apaixonado, ou quando nos disse que ia ser pai. Foi o primeiro de todos nós a dar esse passo gigante. Começar uma família. Na altura, para mim pelo menos, tudo isso era ainda uma miragem. Lá longe...
A distância entre os nossos estilos de vida aumentava mas a amizade permaneceu intacta e estendeu-se à família que construía. Esteve sempre lá, sem julgamentos nem falsas moralidades. Aceitava os outros e a vida com uma naturalidade invejável. Uma pessoa simples, naquilo que a simplicidade tem de mais maravilhoso.
E inevitavelmente chego ao dia em que o telefone tocou e uma voz embargada do outro lado anunciou que ele tinha morrido. Assim, sem mais nem menos. Os dias seguintes foram como um pesadelo do qual nenhum de nós conseguia sair. Mais uma vez nos encontrávamos perante a morte e seus desígnios indecifráveis e avassaladores. Mais uma vez caminhávamos juntos e em silêncio pelo cemitério para nos despedirmos de um amigo. Da última vez, apenas um ano antes, havia percorrido o mesmo caminho de mão dada com aquele que agora tinha, infelizmente, o papel principal. Algures pelo caminho aquele momento surgiu na minha cabeça. A canção, a bicicleta, o sorriso do tamanho do mundo. Nada que pudesse aliviar aquela realidade cruel mas, de alguma forma, guardei-o ali. E é lá que regresso sempre que preciso.
A frase que dá início ao vídeo diz - " The dream is not over". Acredito que sim. Que o sonho vive, apesar dos pesares. E creio ser nossa obrigação, dos que ainda andam por cá, trocar sorrisos do tamanho do mundo. Sempre que possível, por tudo ou por nada.

Free As A Bird
Lennon/McCartney/Harrison/Starkey

Free as a bird,
it's the next best thing to be.
Free as a bird.

Home, home and dry,
like a homing bird I'll fly
as a bird on wings.

Whatever happened to
the life that we once knew?
Can we really live without each other?

Where did we lose the touch
that seemed to mean so much?
It always made me feel so...

Free as a bird,
like the next best thing to be.
Free as a bird.

Home, home and dry,
like a homing bird I'll fly
as a bird on wings.

Whatever happened to
the life that we once knew?
Always made me feel so free.

Free as a bird.
It's the next best thing to be.
Free as a bird.
Free as a bird.
Free as a bird.


PS - Feliz Ano Novo para todos, cheio de música e sorrisos!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Rock Foleiro



No outro dia ouvi o Nuno Markl dizer uma coisa maravilhosa com a qual me identifiquei imediatamente. Foi qualquer coisa como: " Nada como rock foleiro para começar o dia bem disposto". Concordo em absoluto. Aliás, não só para começar o dia mas para várias situações. Tomar banho, conduzir, e, a minha preferida, para limpezas e arrumações. Nada com uma boa selecção de rock foleiro para ganhar ânimo e realizar alegremente qualquer tarefa, por mais chata que seja.
Penso que haverá muito mais gente a pensar assim. Talvez poucas pessoas o admitam, uma vez que os gostos musicais são tidos como importantes indicadores de personalidade. Hipocrisias e pressões sociais...
Bom, deixo-vos com uma das rockalhadas foleiras que mais gosto, "Don't stop believing" dos Journey. Excelente para limpezas, com a vantagem de ter passado tanto nas discos quando eu era miúda que me traz sempre imensas recordações !

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Grande Momento



Intro

Ontem um amigo muito especial chamou-me a atenção para o facto da Juke ainda não ter Pearl Jam. Banda incontornável para muitos, essencial para mim. Os dois primeiros álbuns foram autênticas bíblias musicais, talvez os dois álbuns que mais vezes ouvi em toda a minha vida. E aí reside a dificuldade. As regras querem inverter-se. Porque a música de que falo acompanhou-me, durante tanto tempo, e de forma tão intensa, que me é difícil liga-la a momentos concretos (onde é que eu já ouvi isto?). Depois de alguma reflexão, resolvi tentar a sorte. Este será, provavelmente, o primeiro de muitos posts musicados pelos Peal Jam. Afinal, temos que começar por algum lado. E normalmente, o melhor é começar pelo princípio.

Tinha acabado de entrar para a faculdade. O "Ten" era o meu melhor amigo. O discman, último presente que recebi do meu pai, rodava 24 sobre 24 o tal álbum. Da tal banda. Que fazia parte do tal movimento. Que estava a mudar a música, que nos estava a mudar a todos. Ou talvez não. Talvez o dito movimento apenas tivesse chegado numa boa hora e se cumprisse ao dar voz, ritmo e melodia aquilo que todos sentíamos. O fim da inocência, o confronto inevitável com o real. Eu, pessoalmente, não ouvia mais nada, não sentia mais nada. Dormia de phones, o álbum em repeat tocava toda a noite. Para que não ouvisse mais nada.
O ambiente académico foi uma desilusão imediata, começando pelas estupidificantes praxes e afins. Os professores eram velhos, a matéria desactualizada.
E as aulas começavam tão cedo...
Mas para cada Inferno colectivo existe um Paraíso individual, e eu encontrei o meu logo no primeiro dia de aulas. Olhei para ela e senti. Respirei fundo e tranquilizei-me. Não estava só. Não éramos iguais, nem por sombras. Tínhamos o mesmo olhar, "apenas" isso. O desespero era tanto que não tivemos qualquer pudor em admitir que nos tínhamos reconhecido logo ali. Metemos conversa, desistimos da apresentação de uma qualquer cadeira e fomos para o café. Nunca mais nos largámos.
Entre muitas outras coisas, partilhamos o "Ten". Vezes infinitas. Fazíamos teses e tratados para cada um dos temas, ou "limitavamo-nos" a ouvi-los em silêncio.
Pelo meio o estudo. Que agora já tinha que ser. De facto. Era necessário estudar, por pouco que fosse. Ou nada feito. Não nos demos mal...
É aqui que me encontrei naquele momento. No momento do "Ten". Que foram, pelos menos, dois anos...
O fim definitivo da inocência, o principio de uma nova etapa, o encontro com uma amizade eterna.
Grande álbum.
Grande momento...

PS - a escolha do vídeo e da canção foi a possível. Os primeiros vídeos oficiais do "Ten" no youtube, não dão para copiar...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Músicas da Rádio IV - O cabaret da coxa



Na sala de partos estavam quase 40º graus. A parteira suava tanto como eu. Ao meu lado, a menina de quinze anos já tinha parido o seu bebé, mas os seus gritos abafados permaneciam nos meus ouvidos como uma promessa de sofrimento.
Vai doer ainda mais????!!!
O parto não estava a ser fácil e há muito tempo que tinha perdido o controle. Pela dor, pelo medo, pela enorme angústia de nos ver (a mim e ao bebé) entregues, em total e assumida fragilidade, aquele ambiente estranho e desumanizado. E digo desumanizado não pela ausência de seres humanos, que este meu primeiro parto, segundo palavras da própria parteira,"parecia o cabaret da coxa!". A parteira, duas médicas, duas enfermeiras,um pediatra, uma tia avó parteira reformada e o meu homem. Deste magnífico corpo de baile de touca e bata, só o meu homem e a parteira contrariavam a realidade desumana e caótica. Com a calma possível e sempre pela positiva, tentavam que eu me concentrasse. A famosa epidural não tinha produzido qualquer efeito e as dores trespassavam-me como facas. E toda aquela gente de um lado para o outro gritando-me ordens desconexas e absurdas: "Cala-te!" - gritava a tia avó parteira, "faça força como se estivesse a fazer cocó" - dizia uma das médicas, "já se vê a cabeça lá ao fundo!" - gritava o pediatra encostado à parede de braços cruzados como se estivesse a assistir a um espectáculo qualquer.
"Olhe só para mim, oiça-me só a mim" - implorava a parteira com as gotas de suor a descerem-lhe pela face. "Já não consigo, já não posso mais...". Sentia as forças desaparecerem e não conseguia respirar porque uma das enfermeiras se tinha deitado por cima da minha barriga para empurrar a bebé para baixo. Lia na cara da parteira e do meu homem sinais de preocupação e o meu pânico aumentava. "Não vou conseguir, não vou conseguir...".
Havia um pequeno rádio na sala de partos. Acho que estava sintonizado na RFM, o que poderia ser uma verdadeira catástrofe noutro contexto. Ali, qualquer estação, qualquer tipo de música era por si só positivo. Não me lembro do momento exacto, mas esta canção soou pela sala. "Bring me to life"... nem de propósito!
Pouco tempo depois, sempre fixada na parteira e no meu homem a seu lado, acatei a ordem de fazer toda a força possível. "Ela vem aí! Tem o cabelo preto!" - dizia o meu homem emocionado. Fiz ainda mais força e a minha primeira filha saiu para o mundo. Quase não chorou. A parteira segurava-a nas mãos e levantou os braços para que a pudesse ver. Ainda ligada a mim pelo cordão. Uma bebé perfeita, linda e estranhamente tranquila. Primeiro o alívio, depois a indescritível emoção. Ria e chorava ao mesmo tempo e só conseguia repetir baixinho - "a nossa filha... que linda, que linda...".
Os milagres acontecem, realmente. Em qualquer sítio. Até em cabarets da coxa...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O poder da música



Este vídeo absolutamente delicioso foi produzido pelo movimento Playing for Change. Sempre acreditei no poder da música para mudar o mundo. Aqui está um exemplo disso.
Mais info em www.playingforchange.com

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Master!



Heavy Metal. Se tivesse que eleger uma música, apenas uma, seria esta. Master of Puppets. Lembro-me da primeira vez que a ouvi, em vinil, num dos famosos quartos já aqui descritos. Lembro-me da primeira vez que a ouvi ao vivo, no estádio de Alvalade, primeiro concerto de Metallica em Portugal. Um concerto histórico, um dia histórico. Os metálicos portugueses, lágrimas nos olhos, após dez anos de espera, rendiam-se ao profissionalismo emotivo da banda. E a banda rendia-se à histeria colectiva que os abraçava. O melhor concerto que vi até hoje.
Lembro-me do fantástico e saudoso Johnny Guitar, à pinha, numa nuvem de cabelos ondulantes e de vozes repetindo - "Master, Master". Lembro-me do meu pai passar pelo quarto e pedir - "Põe lá isso do princípio... Hummmmm, este tipos são mesmo bons. Até que enfim começaste a ouvir música a sério!".
E fico sem palavras. O poder do som atravessa-me, como da primeira vez.
Curiosamente, a letra é altamente pedagógica. Sem sombra de moralismo, dá-nos nua e crua, a realidade das dependências. O que só é inesperado para quem não conhece Metallica. Para mim, até hoje, continuam a ser a melhor banda do mundo.
Metallica!

End of passion play, crumbling away
I'm your source of self-destruction
Veins that pump with fear
Sucking darkest clear
Leading on your death's construction

Taste me you will see
More is all you need
You’re dedicated to
How I'm killing you

Come crawling faster
Obey your Master
Your life burns faster
Obey your Master
Master

Master of Puppets
I'm pulling your strings
Twisting your mind and smashing your dreams
Blinded by me, you can't see a thing
Just call my name, ‘cause I'll hear you scream
Master
Master
Just call my name, ‘cause I'll hear you scream
Master
Master

Needlework the way, never you betray
Life of death becoming clearer
Pain monopoly, ritual misery
Chop your breakfast on a mirror

Master
Master
Where’s the dream that I've been after?
Master
Master
You promised only lies
Laughter
Laughter
All I hear and see is laughter
Laughter
Laughter
Laughing at my cries

Hell is worth all that, natural habitat
Just a rhyme without a reason
Never ending maze
Drift on numbered days
Now your life is out of season

I will occupy
I will help you die
I will run through you
Now I rule you too

Dance, dance, dance!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



Estava grávida pela segunda vez quando esta canção invadiu a rádio. Adoro o David Fonseca, desde os tempos dos Silence 4, mas este tema é, sem dúvida alguma, o meu preferido. Lembro-me de dançar até à exaustão com a minha filha mais velha pela mão e a mais pequena aos pulos dentro de mim. É-me completamente impossível ficar quieta ao ouvi-la. Foi eleita por mim a canção da descompressão. Quando tudo corre mal, é só pô-la a tocar o mais alto possível e dançar, dançar, dançar. As míudas seguem o exemplo e pulam, pulam, pulam. Tudo isto acontece normalmente na nossa cozinha, tantas vezes transformada em pista de dança. Tal como na letra, os meus dias de rainha da discoteca já lá vão. Agora improvisam-se outras pistas e outras danças. Irrelevante, o importante é continuar a dançar "like you were sixteen". O corpo e a mente agradecem, mesmo. Experimentem!


You saw me sitting in the corner
And you just sat there right next to me
You asked me - "are you feeling lonely?" -
Well lonleliness is just a word, you see

I came in here just for the music
For all the things that it makes me feel
I came to exorcise my demons
To bury those days when only pain was real

Treat me right
My dreams will come true tonight
Come with me
Set me free
We'll be alright

I should have met you in the 80's
Back when I was the dance floor queen
Maybe you think that I'm too old for dancing
You should have met when I was sixteen

Dance! You know what I mean
Dance! Like you were sixteen

Hey! Hey! Hey!

Tonight I'm drinking myself sober
'Till I see what I want to see
A few more drinks and you'll be the perfect lover
You will be the one that I truly believe

That is right
My dreams will come true tonight
Come with me
Set me free
We'll be alright

I should have met you in the 80's
Back when I was the dance floor queen
Maybe you think that I'm too old for dancing
You should have met me when I was sixteen

Dance! Like I was sixteen
Dance! You know what I mean

Hey! Hey! Hey!

I should have met you in the 80's
Back when I was the dance floor queen
Maybe you think that I'm too old for dancing
You should have met me, I should have kissed you

I should have kissed you in the 80's
Back when I was young and free
Maybe you think that I'm too old for loving
Tonight I'll make love me

Dance! Like you were sixteen
Dance! You know what I mean

Dance! Like you were sixteen
Dance! You know what I mean

Dance! I will set me free
Dance! Like I was sixteen

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O Cámone


Lembro-me como se fosse hoje. Na tal casa em frente à escola. O Cámone, sentado na mesa da cozinha num final de tarde, disse-me: "You gotta listen to this. Rage against the machine. It's something complety diferent! The guitar, listen to the guitar." Fiquei extasiada. A música era fantástica, as letras fortíssimas e aquela guitarra era realmente de outro mundo!
Até hoje, sempre que oiço Rage lembro-me dele. O nosso Cámone. Foi namorado de uma amiga e um grande amigo para todos. Um holandês, de Amesterdão, viajado, um homem de muitos ofícios, sem medo da vida e das suas curvas imprevisíveis. Um cidadão do mundo, olhos atentos, sinceros e inocentes. Ensinou-me muita coisa (como a máxima que se tornou minha também: "pão e tabaco não se nega a ninguém") e espantou-nos a todos ao eleger os portugueses como os "mais malucos". O que dito por um holandês de Amesterdão tem o seu impacto... Ele espantava-se com outras coisas, sobretudo com a forma como vivíamos as relações familiares. "Vocês vivem mergulhados e embrulhados nas vossas famílias", dizia-me muitas vezes."Para mim é pouco saudável, doentio mesmo. Não aguentaria viver assim".
Adorava os livros da Turma da Mônica e as suas primeiras aventuras na língua portuguesa eram uma salada recheada com termos muito brasileiros e muito infantis. Delicioso! Vivemos muitas aventuras juntos, mas a minha preferida foi uma invasão nocturna ao Castelo de São Jorge. Trepámos um gigantesco portão e andámos horas em exploração. Uma experiência fantástica e imprópria para cardíacos (Buuuuuuu....).
Há uns anos voltou a Portugal e visitou-me. Eu estava a viver no campo, na altura. Passámos um dia óptimo mas na hora da despedida, um estranho abraço muito apertado e uns olhos cheios de lágrimas fizeram-me perceber. Tinha vindo despedir-se. Não para sempre, acredito. Mas estaria a fechar um qualquer ciclo da vida dele ao qual eu estava ligada.
Tenho saudades e a certeza que o voltarei a ver. Por enquanto, ficam os Rage Against the Machine...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Música de Bruxas



Vivíamos entre Lisboa e Madrid. As duas cidades eram separadas por uma viagem surreal de autocarro que durava cerca de 9 horas. Metade da semana cá, metade da semana lá. A velocidade das nossas vidas só era suportada pela nossa juventude e pela amizade forte que nos unia.
E há tantas histórias para contar! O choque cultural com os "nuestros hermanos", a faculdade, os senhorios, as noitadas madrilenas, as excursões ao Rainha Sofia para ver outra e outra vez o Picasso, o Miró e o Dali, a árvore das siestas no Campus, os amigos argelinos, a forma como fomos descobrindo aquela cidade que ficou também um bocadinho nossa. As experiências que só podemos viver longe de casa, como os olhos se encherem de lágrimas quando, na semana portuguesa do El Corte Ingles, nos deparámos com embalagens de leite Mimosa e vinho alentejano!
E a casa que conseguimos alugar após uma verdadeira odisseia ... Muito bem situada, no coração da cidade. Um pequeno bunker no alto de um prédio. Uma única janela, minúsculo quadrado junto ao tecto na sala, pela qual a Lua passava às vezes, em jeito de consolo. Os jantares à oriental (porque não tínhamos cadeiras), regados com vinho Rioja e muitos ataques de riso (ainda temos que apanhar uma bebedeira hoje!). A hora de ponta no wc, entre rimel e blush, e mais uns quantos ataques de riso. "Las Espice Girls", a mil à hora mas sempre em grande estilo!
Este álbum dos Portishead tocava muito no nosso pequeno bunker madrileno. A Elsa dizia sempre que era música de bruxas. Tal como nós... Uma irmandade no feminino, forte e inquebrável.
"Espice Girls Forever!"

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... Beautiful Day


O meu secreto voyeurismo pela Juke, deveu-se ao estranho ambiente de nostalgia com que retratam as nossas memórias de adolescentes. Pessoal, a vida ainda agora começou – depois eu é que era a taradinha de pensar nos tempos da reforma heim?! Fico confusa, sorrio e “agarrada” à memória dos tempos que já lá vão, desprendo-me... Bem, mas o trabalho tem de ser feito e respondendo ao desafio da minha amiga do coração: lembrei-me de várias: Tiger, do filme com o teu sex symbol, Silvester Stalone – acho que adoravas ver-me a gostar dessa música em especial - , dos Waterboys, faz-me sempre lembrar as chegadas nocturnas de Tavira ao conforto da casa das Pedras e...e...adormecer a ouvir os teus relatos pormenorizados de tudo que tínhamos vivido em cada uma das noitadas, Pearl Jam – e as simulações de cantoras de rock, que adorarias ter sido (ainda acho que tens voz e atitude, aliás) e os “fictícios (e)namorados” Axel, Kurt Cobain, e (prémio para o magnifico) Bono. Muitas outras músicas, sempre acompanhadas para cada aventura diária, com uma estação de rádio, que qualquer que fosse a hora, tu encontravas a melhor frequência....todas as músicas pareciam ter sido escolhidas a dedo, e era sempre o acaso dos teus dedos na aparelhagem. Como este post já está longo, fica por agora, uma música...dos tempos de hoje, que me põe bem-disposta, dotada de ambiente para o romance e festa! Viva o romance, as relações, os amigos, filhos, família e muitos, muitos anos de vida! Deixo aqui uma dos U2, banda intemporal...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Músicas da Rádio (e TV) III... Anatomia do choro

Intro

Depois de passar alguns dias sem escrever, já me ardem as mãos. Tantas ideias, nem sei por onde continuar...
Sempre quis que este espaço não fosse só meu e parece que consegui. Obrigada a todos pela cumplicidade, partilhando as suas jukes, comentando, ou simplesmente seguindo silenciosamente o blog. Não faria sentido de outra forma!
Bom, e sem mais demoras... música! Liga-se a jukebox, vamos ver o que sai...



A Anatomia de Grey é dos poucos vícios televisivos que ainda possuo. Terça-feira, depois do Jornal 2 (por agora não, devem estar a juntar dinheiro para a próxima temporada). Despacho tudo a correr para me poder sentar e, durante quase uma hora, viver outras vidas. Vidas cheias de emoções, peripécias, lições mais ou menos moralistas. Outras vidas, outros empregos, outras famílias, outros amigos. Dramas impressionantes vividos à dúzia por episódio. Às vezes lá cai uma lágrima. Mas nunca como naquele episódio.
O meu dia de trabalho tinha sido difícil. As miúdas não me deram tréguas e o meu homem estava zangado. Só me apetecia chorar. Há tantos dias em que me apetece chorar... Mas deixei de conseguir, pelo menos com a facilidade de outros tempos. Às vezes sinto que me bastava chorar. Mas não sai nada. Nada.
Naquela noite, valia-me a Anatomia. O enredo complicara-se, o episódio seria, com certeza, emocionante. E foi. Uma correria, em todos os sentidos. Mas tudo parecia seguir em direcção a um final feliz. A minha personagem preferida ia casar com o homem da sua vida, que recuperava de um problema cardíaco gravíssimo. Ela estava feliz, eu estava feliz com ela. Mas num golpe habitual nestas telenovelas, o homem, lindo, jovem e apaixonado, morre como um pássaro, sem que nada nem ninguém lhe pudesse valer. Não queria acreditar. Era demais, até para a Anatomia de Grey! Chorei convulsivamente ao som desta canção, que faz parte da banda sonora da série, mas que já me tinha prendido quando tocava na rádio. Chorei muito e durante muito tempo. Já a série tinha acabado e eu permanecia no sofá, a soluçar, a cara já inchada de tanto choro. Chorei pela minha personagem preferida e pelo seu amor morto. Chorei pelo profundo cansaço que o meu trabalho me traz tantas vezes. Chorei pelas zangas conjugais, chorei pela disponibilidade que às vezes não tenho para as minhas filhas. Chorei por tudo o que é importante e por esta vida maluca que nos afasta disso, do que é realmente importante.
Chorei, chorei, chorei.
Finalmente.

PS - este post e sobretudo esta canção é dedicada às 3 pessoas mais importantes da minha vida.
"All that I am, all that I ever was, is here in your perfect eyes, they're all I can see"

E porque jukeboxes há muitas... I Know



Dizer que a música aproxima as pessoas é um lugar-comum. Mas nem por isso deixa de ser verdade...
Há um poema de Saint-Exupéry que gostamos particularmente e que não nos cansamos de ler, citar ou invocar. E fazemo-lo agora, porque ali aparece escrito que cada um que passa na nossa vida “Leva um pouco de nós e deixa-nos um pouco de si”. E fazemo-lo porque não podia ser mais verdadeiro e adequado.
Esta amizade começou pela descoberta de sermos ambos "drunfas", utilizando aqui uma expressão da autora deste blog. Um gosto comum encontrado por mero acaso, como quando tropeçamos inadvertidamente em algo, que nos faz parar, voltar atrás, olhar e perceber onde foi. E descobrimos isso pela Fiona Apple. O passo seguinte foi trocar os álbuns, até termos ambos a "caderneta completa". Seguiu-se a partilha de outras músicas, outros grupos, outros Duendes... E assim se foi fazendo a banda sonora desta amizade que temos vindo a descobrir e a construir, faixa a faixa, onde cada um vai guardando um pouco do outro e oferendo um pouco de si. E com esta troca, a partilha de pedaços da vida de cada um. E por isso se diz que a música aproxima as pessoas.
Quando partilhamos músicas, sobretudo aquelas que para nós são especiais, estamos a dividir com alguém algo mais do que a mera sonoridade: estamos a trocar alegrias, tristezas, histórias, formas de pensar… Afinal, nós próprios. Quase como se disséssemos: diz-me o que ouves, dir-te-ei quem és! Ou diz-me o que ouves, diz-me quem és!
Meses mais tarde, e muita música partilhada, descobrimos ser esta a nossa música preferida da Fiona. Aqui fica, numa versão emotiva. Drunfa! Não poderia ser outra.


I Know

So be it, I'm your crowbar
If that's what I am so far
Until you get out of this mess
And I will pretend
That I don't know of your sins
Until you are ready to confess
But all the time, all the time
I'll know, I'll know

And you can use my skin
To bury secrets in
And I will settle you down
And at my own suggestion
I will ask no questions
While I do my thing in the background
But all the time, all the time
I'll know, I'll know

Baby, I can't help you out while she's still around
So for the time being, I'm being patient
And amidst this bitterness
If you'll just consider this
Even if it don't make sense all the time, give it time
And when the crowd becomes your burden
And you've early closed your curtains
I'll wait by the backstage door
While you try to find the lines to speak your mind
And pry it open, hoping for an encore
And if it gets too late for me to wait
For you to find you love me, and tell me so
It's ok, don't need to say it


El B e LP – Duo Drunfo

domingo, 30 de novembro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... Time



Time
(Mason, Waters, Wright, Gilmour) 7:06

Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an offhand way.
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way.

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain.
You are young and life is long and there is time to kill today.
And then one day you find ten years have got behind you.
No one told you when to run, you missed the starting gun.

So you run and you run to catch up with the sun but it's sinking
Racing around to come up behind you again.
The sun is the same in a relative way but you're older,
Shorter of breath and one day closer to death.

Every year is getting shorter never seem to find the time.
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the English way
The time is gone, the song is over,
Thought I'd something more to say.


Fui convidado para colaborar e contribuir para este espaço! Um prazer, sem dúvida...
Um desafio levado a sério, talvez até demais. O mote, uma música! Uma música que representasse uma parte, um trecho, um caminho palmilhado da minha vida!
Estive lá quase, mas quando escolhia uma música, tentava escrever e não saía nada! Não era bem aquilo!
Hoje, regressei a um sítio onde vou muitas vezes...Pink Floyd...para mim a melhor banda de todos os tempos...intemporal, a vida como ela é... Nem é preciso ler ou saber as letras, embora se perca se não se fizer!!!
Uma altura da minha vida, uma música...
Sorry Cat, não consigo... Porque a música sempre andou aqui, em todos os géneros, mas estes é que ficam sempre...Não são de uma altura da minha vida, são da minha vida...desde os três anos.
Não consigo porque a minha cabeça não quer, não deixa, não pára!
E isso é bom!
Esta não diz tudo, mas diz muito! Também diz que nunca é tarde...
Recomendo que oiçam a que vem logo a seguir, The Great Gig In the sky! Que ouçam o resto do álbum todo! Ou que ouçam, como deve ser ouvido... Da primeira à última...sem interrupções!

Jakk in and from a boxx

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Times like these



Vou descansar uns dias. Tem sido muito desafiante mas cansativo. Isto de partilhar palavras tem que se lhe diga... Enquanto guardo umas quantas só para mim, deixo-vos música...claro!
Uma das minhas canções preferidas de sempre, para sempre. Um caso de amor ao primeiro acorde.
Aproveitem para enviar as vossas jukes!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Wild Child



Chovia torrencialmente. Da saída do metro até casa dele fiquei completamente ensopada. Estava furiosa, já não me lembro porquê. Como sempre, ele ia desconstruindo a minha zanga com o seu humor meio corrosivo meio amoroso. E como sempre, eu ficava ainda mais furiosa, até ser vencida pelo riso que já não conseguia conter.
Mais calma e já com roupas secas e quentes, deitei-me na cama estreitinha do quarto dele. Enquanto ele encomendava uma pizza de bacon e ananás para o nosso almoço tardio, eu perdia-me nas imagens que forravam as paredes do quarto. Posters do inacreditavelmente feio vocalista dos Twisted Sister, recortes de revistas com fotografias impressionantes estilo world press photo, bilhetes de concertos, pranchas de BD, enfim... O mundo segundo o proprietário daquela pequena divisão.
Naquele quarto a música também era uma constante. Sérgio Godinho, Metallica, Zeca Afonso, Twisted Sister, Xico Buarque, W.A.S.P., Vinícius de Moraes, Manowar... Tal como as paredes, a banda sonora era uma grande colagem, o mundo segundo o proprietário do velho gravador...
Naquela tarde, que não sei bem porquê, ficou fielmente registada na minha memória, a banda sonora foi W.A.S.P. e o seu "Electric Circus". Mesmo hoje, quando vi e ouvi o vídeo, embora tenha soltado umas valentes gargalhadas, ainda senti aquela ânsia que só os primeiros amores nos trazem...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Músicas da Rádio II



Viviam no campo. Primeiros tempos de vida a dois. Tempo de mudanças, muitas mudanças. Ele tinha resolvido dar-se um tempo. Parar, olhar, pensar e repensar a vida, o caminho. Ela tinha chegado à pouco de uma viagem semelhante e tentava aplicar a teoria à realidade. Sentiam-se seguros naquele amor. Tudo o resto era questionável.
Os dias eram longos e solarengos, por vezes pesados demais. Isto de parar e olhar para dentro de nós implica sempre uma dose considerável de sofrimento. Mas a vida no campo desvendava-lhes segredos importantes. Os vizinhos e amigos entravam-lhes pela casa adentro porque a porta estava aberta. Rapidamente perdiam os "vícios" urbanos e aprendiam não só a viver com a porta aberta mas a aproveitar as portas que se abriam para eles.
O holandês que aprendia português a ler livros de provérbios e que fazia pão todas as manhãs para partilhar com os vizinhos, a mulher alentejana com jeitos maternais que tinha sempre uma história para contar. Estas e outras personagens entravam nas suas vidas, na sua casa, misturavam-se com o momento que viviam. Até os espíritos pareciam usufruir das portas abertas...
Cada uma das personagens lhes trazia mais uma pista, mais uma peça. Tudo parecia começar a encaixar-se. Mas ela interrogava-se se não o iria perder no meio de tanta (des)construção. E ele interrogava-se se ela ficaria para um qualquer desfecho que ele ainda desconhecia.
Mas tudo passa, e aquele momento também passou. Ninguém se perdeu. Foi apenas o primeiro de muitos puzzles que construíram juntos.
Hoje já não vivem no campo mas esforçam-se por manter a porta aberta. Nunca se sabe quando nos surge a peça que procuramos...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... A Mula da Cooperativa



Eu quando era miúda tinha dois irmãos. Volta não volta, partíamos com o meu pai numas prospecções ao Portugal profundo. Não havia auto-estradas, mas havia espaço à vontade na Toyota Hiace para aguentar as longas horas de viagem. Também não havia a mania dos cintos de segurança, de modo que ocupávamos o tempo a correr dentro da carrinha, a fazer caretas e coisas várias pelas janelas, ou a esmagar o irmão mais próximo contra o banco mais próximo. Também se cantavam umas músicas e a da Mula da Cooperativa tornou-se um clássico.

Inês

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Caminhadas Nocturnas



Em altos berros nos carros, em festas, no banho, em excursões da escola, em quartos de amigos, nas férias, esta canção e este álbum estiveram sempre lá. Mais do que os Violent Femmes, recordo as vozes a cantar à capela. "I take one, one, one 'cause you left me, two, two, two for...". E surgem-me imagens dos nossos percursos a pé na noite de Lisboa quando o Bairro Alto fechava portas e era hora de "descer" para outras paragens. Correr a Calçada do Combro rumo a Santos ou improvisar atalhos em direcção ao Cais do Sodré, a descer todos os santos ajudam! Como naquela altura o aumento da criminalidade não aparecia nas notícias, aliás a polícia era mais temida que os criminosos, iamos tranquilos e a cantar. A cidade era nossa, inventávamos e reinventávamos percursos e, aquecidos pela agitação nocturna, raramente precisávamos de motorista. Foi assim que conheci Lisboa profundamente, que lhe tomei o pulso. Descobri as suas múltiplas dimensões, as suas belezas e virtudes, as suas misérias e angústias. Sobretudo, foi assim que eu e a cidade nos fundimos, numa ligação tão profunda que julgo inquebrável.
A minha geração foi provavelmente a última a poder gozar estes passeios guiados pela lua. Sinais do tempo...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Conta-me Histórias



Estava naquela fase aterradora. O corpo a mudar, a puxar por mim. E eu sem saber quem era, e muito menos o que era isso de ser mulher. Já não brincava com bonecas mas ainda não me deixavam sair à noite. Sentia-me a pessoa mais infeliz e incompreendida de todo o universo, ainda por cima com borbulhas. Foi por essa altura que chegou à minha turma um repetente muito especial. Especial porque criámos quase de imediato uma amizade que dura até hoje.
Além de ser um ano mais velho, ele vivia uma vida com a qual todos nós apenas sonhávamos. Tinha mota, uma namorada com 18 anos que praticamente vivia em casa dele e a liberdade de ir, vir, como queria, quando queria (ou assim nós imaginávamos...).
Os primeiros tempos da nossa amizade foram coloridos por um flirt constante, o que me agradava muito. Os outros miúdos, imberbes e borbulhentos não me interessavam nada. E os mais velhos ignoravam-me... por ser imberbe e borbulhenta! A experiência que ele já tinha nos amores deixavam os meus inexperientes 14 anos absolutamente rendidos. E havia outra coisa que nos ligava... a música. Tal como eu, ele passava o tempo a cantar, aliás, tinha muito boa voz. De toda a música que descobri e partilhei com ele, ficou-me sobretudo a dos Xutos. Foi com ele que explorei pela primeira vez os álbuns mais antigos ("que isso do Circo de Feras já é muito comercial rapariga, tens que ouvir o Cerco!").
O "Conta-me histórias", que ouvi repetidamente até a cassete se partir, é sem dúvida, a canção que ficou mais ligada a esta fase da minha vida e ao nosso encontro.
A minha vontade de viver coisas que ainda não me eram permitidas e que me chegavam pelas histórias que ele contava. A minha pressa de crescer. A descoberta de mim e do outro. O corte definitivo com a infância e o início de outra gigantesca aventura...

E porque jukeboxes há muitas... Dumb

Intro
Dizia eu que a Cat’s Jukebox tem permitido que rebusque a minha Jukebox. Que oiço as músicas e que as sinto da mesma maneira, que me transportam aos mesmos locais, que me trazem os mesmos cheiros e as mesmas emoções… mas oiço-as com ouvidos de ouvir…Ouvidos mais atentos. Ou outros ouvidos. (o pessoal envelhece e vai ganhando cera…)
Foi difícil escolher aquela que queria entregar a esta Jukebox. Mas cá vai com a certeza de ter tomado a melhor opção.



NIRVANA, “DUMB”

O tempo de não querer ser como ninguém. Ser Especial e Único. Ser EU.
O tempo de arriscar, de andar no limbo, “border line”…
Diversão acima de tudo. Copos, fumos… e o que mais houvesse.
Agora sinto saudade dessa sensação de carpe diem.
Hoje, quando oiço qualquer música dos Nirvana, e em especial este tema, fico naquela onda. Com vontade do mesmo. Da mesma irreverência e da mesma atitude. Do mesmo êxtase. Fico com vontade da felicidade e da ressaca curtida em grupo.
Noite na Av. Luísa Tody… nos banquinhos que já lá não estão e nos bares que já não existem. Em 1993/1994 passava largas noites ali. Íamos aos bares apenas para apanhar a cerveja e voltávamos ao banquinho na Avenida. A maralha ficava reunida em grupo. Cada um curtia as suas e todos curtíamos as dos outros. Era (e é) um grupo de cerca de 10 rapazes. E as conversas giravam em torno do costume, para quem tem 15 ou 16 anos: mulheres, futebol, drogas e (alguma) música…como esta.

Agora que penso nisso as conversas ainda andam à volta do mesmo!

Ass. Fumante (www.movimentoprofumo.blogspot.com)

I'm not like them
But I can pretend
The sun is gone
But I have a light
The day is done
But I'm having fun

I think I'm dumb
or maybe just happy
Think I'm just happy
my heart is broke
But I have some glue
help me inhale
And mend it with you
We'll float around
And hang out on clouds
Then we'll come down
And I have a hangover...Have a hangover

Skin the sun
Fall asleep
Wish away
The soul is cheap
Lesson learned
Wish me luck
Soothe the burn
Wake me up

I'm not like them
But I can pretend
The sun is gone
But I have a light
The day is done
But I'm having fun

terça-feira, 4 de novembro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... Maria Albertina

Intro
E porque jukeboxes há muitas, mais uma amiga aceitou o desafio (de tão fartinha que estava deste blog não ter música de jeito!). Assim, deixo-vos com a jukebox da LP e a já mundialmente conhecida...

Maria Albertina




Corria o ano de dois mil e quatro. Estava numa reunião, numa sala que não era a minha. A porta abre-se e a cabeça ruiva da Sãozinha a espreitar: "Posso interromper? É para apresentar uma colega nova... Antropóloga." Antropologia... Que interessante! A colega nova, ainda não a conhecia, mas já tinha créditos na minha consideração. Lembro-me de ter achado piada o facto de uma antropóloga vir trabalhar com os Imigras, ela própria com ar de ter acabado de chegar do Oriente.
Nos tempos que se seguiram, os nossos caminhos foram-se cruzando aqui e ali, as nossas áreas de trabalho a tocarem-se. Lembro-me de certa vez lhe ter perguntado afinal o que é isso de "etnias" e "culturas"? Soltou uma das suas gargalhadas, que se costumam ouvir no "Bolinho", e respondeu-me com sentido de humor: "Isso também nós gostávamos de saber! Quando descobrires avisa!". Pensei: "Temos Dótora!" Nada é mais enervante que os académicos com os conceitos prontos na ponta da língua!
O primeiro momento de cumplicidade que recordo foi num dia de convívio de trabalho. Incluía um pedipaper. Começávamos a trabalhar juntas as questões de género. Resolvemos testar o conceito de conciliação da vida familiar e profissional. Levámos as filhas, bebés de carrinho, ainda. E conseguimos! É claro que os outros elementos do grupo tiveram de andar a passo de caracol, parar e segurar nos carrinhos para contornar toda a espécie de obstáculos na cidade... No final, não sei se tínhamos expandido os nossos conhecimentos sobre o Barroco, mas os nossos colegas tinham aprendido o suficiente sobre barreiras arquitectónicas urbanas...
Um dia, emprestou-me um CD, que andava a ouvir e que estava a adorar. Humanos. Gostei tanto que comprei o CD. Na altura era muito radical com as cópias... Tornou-se a banda sonora dos meses seguintes. A "Maria Albertina" a tocar em repeat lá em casa, música de eleição da minha filha. Houve um concerto no Coliseu. Não pude ir mas a colega trouxe-me um bocadinho do concerto, gravado no telemóvel. Tinha-se lembrado de mim...
A vida profissional a misturar-se com a pessoal. A criarem-se solidariedades femininas, tantas vezes náufragas do mesmo barco, a vivermos com intensidade momentos que com as exigências familiares e profissionais acrescentam um novo sentido à palavra liberdade. A queimar soutiens, a trocar confidências. A chorar, a rir, a gritar e a cantar (mais ela...), em momentos cúmplices.
As Feiras de Sant'Iago a reflectirem momentos decisivos na vida de cada uma de nós e a criarem espaço para a conversa, para a amizade. Pelo meio, organizámos espectáculos, exposições, arrumámos cadeiras, fomos camionistas, angariámos bonés para o chueco frito, escrevemos discursos políticos, fomos dirigentes associativas... Agora andamos a salvar o Planeta, contra os académicos que pretendem espartilhar o mundo em objectivos específicos e gerais, contra o status quo das organizações religiosamente politizadas...
E a acompanhar a construção desta amizade, as filhas. A crescerem e a conviverem em Festas de Pijama que reproduzem os afectos das mães. A brincarem e a inventarem a amizade. A afastarem-se para deixar respirar a relação. Dois temperamentos emotivos. Duas personalidades fortes. Cada uma no seu estilo. Com pêlo na venta!!!
Setembro de 2007. A família almoçava no restaurante do costume. A minha filha, cinco anos feitos há pouco tempo, rabiscava a toalha de papel, como de costume. Volta-se para o tio e diz: "Olha!". Tinha acabado de escrever palavras em letras garrafais, sozinha, pela primeira vez. Na toalha de papel, guardada para a eternidade, estava escrito: MARIA ALBERTINA.

LP.

domingo, 2 de novembro de 2008

Discos proibidos



As duas meninas brincavam no quarto. Eram vizinhas, partilhavam tudo, como irmãs.
"Vamos ao quarto dos teus irmãos buscar aquele disco?", perguntou a mais pequena. "Qual deles?", retornou a maior. "O do homem pequeno com o homem grande, claro!".
Correram pelo corredor até ao quarto junto à cozinha. O estore estava corrido, a luz penetrava em raios pelos pequenos furinhos abertos, dando ao quarto um ambiente de mistério e perigo. A mais pequena subiu as escadas do beliche e sentou-se na cama de cima. A mais velha, com gestos precisos e cuidadosos, procurou na estante o tesouro.
"Achei, está aqui!" "Vamos! Não temos muito tempo...".
O lp rodava no gira-discos da sala. Sentadas no chão, olhos quase fechados. Aquelas vozes extraordinárias cantavam numa língua da qual apenas reconheciam algumas palavras. Estavam proibidas de mexer neles, nos discos. Obviamente a proibição aumentava o desejo. O desejo não só de tocar e explorar os objectos, mas sobretudo, o desejo de conhecer aquela música, aquelas vozes. De fazer parte daquele universo desconhecido mas ao qual intuiam pertencer.
Naqueles sons descobriam as infinitas possibilidades da harmonia, descobriam que o que sentiam por dentro podia sair para o mundo em mil e uma formas. Mesmo os medos e as angústias para as quais não tinham nome, não eram só suas. Não estavam sós. O mundo devolvia-lhes um enorme abraço em forma de música.
A fotografia daqueles dois homens, um par esteticamente improvável, contribuia ainda mais para a revelação. Pequenos e grandes, gordos e magros, novos e velhos, pretos e brancos, todos. Éramos todos iguais e juntos podíamos criar beleza.
Foi com a minha vizinha/irmã Teresa e com Simon and Garfunkel que tive a minha primeira lição de cidadania. De solidariedade. Da importância frulcral de nos darmos aos outros.
Só anos mais tarde pude ler integralmente os poemas desta dupla. Quase nada acrescentou ao meu imaginário. Há muito que havia intuído o seu significado...

sábado, 1 de novembro de 2008

My yellow rose...



Eram tempos diferentes. Tempos com muito tempo. Finalmente. Tomara aquela vida, a minha, nas mãos, e entregava-a. Ao tempo, ao destino, às vontades. Ao imediato.
Aquele quarto, aberto só para mim, como um pedido de intimidade. Um amor imenso, porque nascido e ancorado na amizade, numa irmandade codificada por nós, que naquele tempo era Tudo.
E a música. Partilhada, vivida, sentida. Sempre, sempre música. A música que vinha de um quarto irmão e que ecoava pela casa aparentemente triste. Aparentemente desastrosa. Um palácio de príncipes e princesas melancólicos e aprisonados, mas nunca rendidos.
Discos inteiros cantados ao ouvido, numa voz que, naqueles momentos, vinha dos céus. Só para mim...
"My yellow rose..."
Lembro-me das sombras dos corpos frágeis na parede amarelada, lembro-me de me perder dentro da minha cabeça e entender a sua infinidade. Lembro-me de saber que não estava só. Lembro-me de saber que a salvação estava longe e de não me importar nada que fosse assim. Lembro-me de não querer saber se era dia ou noite.
Foi nessa viagem que mergulhei na obra de Roger Waters. E que viagem...
Uma viagem guiada pelos melhores anfitriões. Uma viagem à introversão, à exploração de nós próprios ao limite. Como bailarina no arame, percorri o caminho sem nunca saber que a rede estava lá. Ou, se calhar, sentindo-a intrinsecamente...
Esta é a minha humilde homenagem aos meus dois irmãos da vida. Um, eternamente meu mano velho, outro, um par que foi sem nunca o poder ser, e que, se calhar por isso mesmo, permanece.
O vídeo é do álbum "Amused to Death", chama-se "We were watching tv". Fala de um massacre. Um massacre, como todos, aproveitado politicamente das mais diversas formas. Aqui, não representa nada disso. "My yellow rose". Essa frase carregada de significado(s), naqueles momentos, era "apenas" uma declaração ao meu ouvido.
Era todo o meu eu compreendido e chorado a dois.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... Lay me Low

Intro
E porque jukeboxes há muitas, desafiei um amigo a escrever um post sobre uma canção do Nick Cave, uma vez que, embora respeite muito o artista (sim, que o artista é um bom artista!), não faz, definitivamente, parte do meu imaginário musical. Espero que esta seja a primeira de muitas colaborações, com este e outros amigos que aqui queiram partilhar as suas jukeboxes.

Notas
Embora o autor não o tenha feito, tomei a liberdade de incluir o único vídeo que encontrei com esta canção. O post não vinha assinado de origem. Mantenho o anonimato do autor até ordens em contrário.

E sem mais demoras, deixo-vos com...

Lay me Low



Foi há precisamente dezassete anos que conheci Nick Cave & The Bad Seeds e foi, para mim, uma espécie de Revelação que alterou indelével e irreversivelmente o meu gosto musical. Aquele anjo negro pegou-me na mão e conduziu-me aos recantos mais profundos da alma humana, e eu segui-o como Dante seguiu o poeta. Uma descida aos abismos infernais, vagueando entre espíritos atormentados, ao som áspero das sementes ruins, de onde se eleva a voz do trovador: gutural, arrancada do peito num grito de alma que rasga a garganta para nos falar de dor, melancolia, raiva, sofrimento, provocando-nos uma inquietação profunda, visceral.
Nesta Divina Comédia somos convidados a percorrer três mundos, que se interligam: Morte, Religião e Amor. O tríptico que ele abre e nos mostra na catedral da ruína humana, dos angustiantes enganos, das paixões, do Amor não deixando de nos apresentar aquelas que ele considera as “suas pequenas e feias irmãs gémeas”: Desespero e Decepção.
Recorrendo a um conceito que aprendi há pouco tempo, através de uma amiga minha, arriscaria a dizer que Nick Cave é inspirado pelo duende, um conceito associado à expressão artística espanhola, que segundo Lorca está contido em todos os “sons negros”. Dezassete anos depois consigo aplicar um conceito que define correctamente o que senti e sinto ao ouvir Nick Cave “uma força misteriosa que todos sentimos, mas que nenhum filósofo consegue explicar”.
Das várias músicas dele, apresento-vos uma das minhas favoritas. E deixo que o poeta fale por si. Acrescento apenas que uma das duas que gostaria que fosse tocada no momento de “Lay me Low”.

They're gonna lay me low (Lay me low)
They're gonna sink me in the snow
They're gonna throw back their heads and crow
When I go

They're gonna jump and shout (Lay me low)
They're gonna wave their arms about
All the stories will come out
When I go

All the stars will glow bright (Lay me low)
And my friends will give up the fight
They'll see my work in a different light
When I go

They'll try telephoning my mother (Lay me low)
But they'll end up getting my brother
Who'll spill the story on some long-gone lover
That I hardly know

Hats off to the man
On top of the world
Come crawl up here, baby
And I'll show you how it works
If you wanna be my friend
And you wanna repent
And you want it all to end
And you wanna know when
Well do it now don't care how
Take your final bow
Make a stand Take my hand
And blow it all to hell

They gonna inform the police chief (Lay me low)
Who'll breathe a sigh of relief
He'll say I was a malanderer, a badlander, and a thief
When I go

They will interview my teachers (Lay me low)
Who'll say I was one of God's sorrier creatures
There'll print informative six-page features
When I go

They'll bang a big old gong (Lay me low)
The motorcade will be ten miles long
The world will join together for a farewell song
When they put me down below

They'll sound a fluegelhorn (Lay me low)
And the sea will rage, and the sky will storm
All man and beast will mourn
When I go

Hats off to the man
On top of the world
Come crawl up here, baby
And we can watch this damn thing turn
If you wanna be my friend
And you wanna repent
And you want it all to end
And you wanna know when
Well do it now Do it now
Take a long last bow
Take my hand Make a stand
And blow it all to hell

Lay me low...
When I go...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Músicas da Rádio I



As músicas da rádio. Não as escolhemos, elas escolhem-nos a nós. Para mim, que oiço rádio no carro, no trabalho e muitas vezes em casa, são elas a banda sonora do quotidiano. As músicas da rádio. Mais ou menos foleiras, mais ou menos comerciais, canto-as de fio a pavio. E já tenho coro! Os meus rebentos, não fossem filhas de sua mãe, adoram música, adoram cantar.
No Inverno passado estivémos só as três. O pai teve que ir trabalhar para longe, só vinha ao fim de semana. Não foi nada fácil! Além das saudades, tivémos que ir ensaiando novas rotinas, novos rituais. Dias cinzentos, frio e chuva puxavam-me ainda mais baixo, só mesmo as miúdas me coloriam os dias. E de que maneira...
Esta canção tocava sem parar nas rádios e o refrão ecoava na minha cabeça como se escrito para mim: "enquanto vergo não parto, enquanto choro não seco...".
Uma dessas manhãs cinzentas (por dentro e por fora), a caminho da escola, mais uma vez a canção tocava no rádio do carro. Os meus olhos cheios de água já quase não viam a estrada, quando ouvi, vindo do banco de trás, um coro afinadinho a cantar o refrão. As lágrimas já me desciam pela cara mas um sorriso enorme instalou-se de imediato. Juntei-me ao coro e limpei as lágrimas. O dia correu cinzento, mas eu fiquei em arco-íris.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O Punk



Punk. Uma palavra, presente no imaginário de todos nós, mas que para mim, antes de qualquer outra coisa, representa um rapaz, e apenas um rapaz.
O Punk. Se ele era realmente punk, se cumpria todos os requisitos para isso, não faço ideia, nem me interessa. Para nós foi sempre "O Punk". Na altura,também ouviamos umas "punkalhadas" mas a postura de grupo puxava mais para o metal, embora( felizmente), fossemos todos bastante ecléticos. A postura dele, do Punk, era efectivamente de punk. Contaria dezenas de histórias para provar esta teoria, mas não o vou fazer. Digamos apenas que, a maioria do tempo, se dedicava a inventar brincadeiras muito estúpidas e perigosas. Mas isso não é o mais importante. O mais importante é que o Punk era um rapaz muito inteligente e sensível, com uma criatividade plástica incrível.
A vida nunca não foi fácil para ele, e hoje, ao reflectir sobre isso, descubro muita coisa que na altura não podia ver. As suas inseguranças e carências,a sua necessidade constante de amar e de se sentir amado. O seu enorme talento. E a ironia da sua história.
O Punk foi ao fundo do poço, mesmo. Mas o poço não acabou com ele. Ele acabou com o poço e renasceu. De uma forma para nós estranha e incompreensível, mas à maneira dele, a única possível provavelmente.
Durante muito tempo achei que ele ia morrer cedo. Tantas asneiras...
Mas depois sosseguei, ele estava bem, estava a refazer a vida dele, noutra vida. Trabalho, namorada, rotinas certinhas. A paixão das motas.
Só soube da sua morte depois do funeral. Estava em Praga e ninguém me quis estragar a viagem. Até hoje guardo a tristeza de não me ter despedido dele. Até hoje guardo o sentimento incrédulo perante a sua morte. Por ele, até hoje guardo a certeza da total incerteza das nossas vidas e da ironia da nossa morte. Porque com ele, morreu um pouco de todos nós, mas em nós vive um pouco do Punk que ele foi.
Anarquia!
Esta é para ti João, onde quer que estejas!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

I'm just a girl



Cresci no meio dos rapazes. Muitas vezes era a única rapariga e gostava disso. Mas nunca foi fácil. Se me tratavam como diferente ou me punham de parte, ficava furiosa. Se me tratavam como igual, negligenciando as minhas sensibilidades femininas, amuava. Mas apesar de tudo, era muito divertido. Os rapazes eram mais livres, com eles vivi experiências importantes e aprendi, muito cedo, que a igualdade de género é ainda uma miragem em muitos aspectos. Talvez nos mais importantes.
Vê-los safarem-se com todo o tipo de loucuras às quais os adultos achavam imensa gracinha, considerando-as perfeitamente compreensíveis, afinal, eram rapazes... Se eu fizesse metade das ditas loucuras, era o fim do mundo (onde é que esta rapariga vai parar???!!!)! Fui olhada de lado e criticada, mas nunca recuei. Aquela liberdade era minha também, raios! Ou não foi isso que nos ensinaram?
A liberdade estava ganha, os nossos pais tinham-na conseguido. Para nós, para todos.
Ilusão... Das raparigas toda a gente continuava a esperar uma postura social "adequada", mais recatada e serena. Mas isto já não era afirmado em voz alta. Em voz alta o discurso era efectivamente o da igualdade, o da liberdade. Confuso para quem está a crescer e tenta entender o que se passa à sua volta, não?
Hoje sou mãe de duas meninas. Espero sinceramente que para elas seja mais fácil conquistar o seu lugar no mundo, sem amarras de nenhuma espécie.
Espero sobretudo que nunca tenham que gritar "I'm just a girl in the world... that's all that you let me be!"

sábado, 18 de outubro de 2008

Tudo...



Com este som, com estas palavras... não há mais nada a dizer. Esta música é uma arma. Sempre que precisarem de força... play it! Everything is Everything!


Everything is everything
What is meant to be, will be
After winter, must come spring
Change, it comes eventually


I wrote these words for everyone
Who struggles in their youth
Who won't accept deception
Instead of what is truth
It seems we lose the game,
Before we even start to play
Who made these rules? We're so confused
Easily led astray
Let me tell ya that
Everything is everything
Everything is everything
After winter, must come spring
Everything is everything

I philosophy
Possibly speak tongues
Beat drum, Abyssinian, street Baptist
Rap this in fine linen
From the beginning
My practice extending across the atlas
I begat this
Flippin' in the ghetto on a dirty mattress
You can't match this rapper / actress
More powerful than two Cleopatras
Bomb graffiti on the tomb of Nefertiti
MCs ain't ready to take it to the Serengeti
My rhymes is heavy like the mind of Sister Betty
L. Boogie spars with stars and constellations
Then came down for a little conversation
Adjacent to the king, fear no human being
Roll with cherubims to Nassau Coliseum
Now hear this mixture
Where hip hop meets scripture
Develop a negative into a positive picture

Now, everything is everything
What is meant to be, will be
After winter, must come spring
Change, it comes eventually

Sometimes it seems
We'll touch that dream
But things come slow or not at all
And the ones on top, won't make it stop
So convinced that they might fall
Let's love ourselves then we can't fail
To make a better situation
Tomorrow, our seeds will grow
All we need is dedication

Let me tell ya that,
Everything is everything
Everything is everything
After winter, must come spring
Everything is everything

Everything is everything
What is meant to be, will be
After winter, must come spring
Change, it comes eventually

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Rainhas do Vento



Era uma piaggio branca às bolas vermelhas, coladas com papel autocolante. Fui pendura habitual durante muito tempo. Qual NSR, qual DT ou LC! A mota das bolinhas era um sucesso. E as miúdas que "voavam" a 40km/hora em cima dela também! Iamos sempre a cantar. Tinhamos um reportório especial, escolhido a dedo. Podíamos gritar, o que era libertador e adequava-se bastante bem ao tipo de som que ouvíamos na altura (heavy metal or no metal at all!). " Master of the wind" dos Manowar era sem dúvida o Nº1 da playlist. Só por causa do refrão: "Fly away...".
Mesmo a 40 km/hora éramos as Rainhas do Vento, completamente livres. Como alguém já disse, eramos felizes e não sabíamos...

Crush



Estava cansada, com frio e com fome. Tudo era novo e estranho. Tinha dito adeus a Lisboa, às minhas dores urbanas e apostava tudo naquela nova vida, no campo. Os fantasmas da "outra vida" agarravam-se desesperadamente a mim e murmuravam-me ao ouvido: " não nos deixes! somos teus, somos tu!". Nascer outra vez nunca é fácil.
Estacionei o Panda à entrada da quinta. As cadelas e o gato vieram, como sempre, dar-me as boas-vindas. Cheirava a peixe assado. O casal tinha visitas. Dois homens. Pensei imeditamente recusar o convite que me iria ser feito para comer com eles. Apesar da fome, não me sentia com forças para socializar. Mas a postura maternal da jovem mulher era desarmante, sobretudo para quem se sentia estranha entre estranhos. "Estás tão pálida! Temos peixe de Setúbal, é fresquinho! Come connosco, vê-se mesmo que precisas de uma boa refeição!". Cedi sem grande resistência mas sem grande convicção. Fui apresentada aos dois homens, mas não lhes prestei grande atenção. Estava decidida a comer rapidamente para me ir refugiar no meu quarto. Sentei-me na mesa ao lado de um deles, de frente para o casal. O outro conversava de pé enquanto vigiava o peixe na grelha.
Não me lembro dos temas, mas sei que, pouco a pouco, soltei-me e fui participando das conversas. O homem ao meu lado era primo da jovem mulher. Tinha olhos claros e conversou comigo como se nos conhecessemos há muito tempo. Habitualmente teria atribuído enorme importância a esse facto, mas o corpo moído e a cabeça viajante não me deixavam viver aquele momento. Só conseguia antecipar a minha retirada para o quarto.
Quando finalmente me atirei para cima da cama e desliguei a luz a imagem daquele homem de olhos claros surgiu nos meus olhos fechados. Tentei apagá-la, concentrei-me noutros pensamentos. Sem qualquer sucesso. A imagem permanecia nos meus olhos fechados. Era tão nítida que podia percorrê-la, descobrindo todos os pormenores que não havia percebido durante o jantar. Era um homem muito bonito, mas mais que isso, era-me familiar de alguma forma ainda inexplicável. Enigmas masculinos são tudo o que não preciso neste momento, pensei. Mas até adormecer, e talvez mesmo durante o sono, a imagem do homem dos olhos claros permaneceu nos meus olhos fechados.
No dia seguinte, acordei cedo e os fantasmas da "outra vida" não vieram dar-me os bons dias. Da cozinha chegavam-me os primeiros acordes do "Crush" dos Dave Mathews Band e o cheiro a café acabado de fazer.
Fechei os olhos e a imagem do homem dos olhos claros sorriu-me.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Crapot



A casa era mesmo em frente à escola. O quarto era enorme. O mais desarrumado da história. Afastávamos os livros, os papeis, a roupa e as outras tralhas que tapavam o chão de madeira. Só o espaço suficiente para deitar as cartas e jogar um crapot. O "The Wall" rodava numa cassete muito gasta.Ela ganhava quase sempre, eu perdia-me em conversas e cantorias e esquecia-me da estratégia. Era só nosso aquele ritual, familiar e apaziguador. E tínhamos tanto tempo...
Crescemos, ela deixou o quarto enorme e desarrumado da casa da mãe. As nossas vidas deram voltas e mais voltas. Deixámos de jogar, houve mesmo alturas em que deixámos de nos ver, de nos falar.
Anos mais tarde, quando o pai dela morreu e ficámos por umas horas sozinhas, ela pôs o "The Wall" a tocar (agora já em cd) e perguntou: Jogamos um crapot?

Sweet child of mine



Início da adolescência. Finalmente, provar frutos proibidos. Já posso sair à noite! Borboletas na barriga de tanta excitação. Cada noite reservava acontecimentos essenciais, inadiáveis (ele hoje vai estar lá...). Primeiros copos bebidos ao balcão, como gente grande! Primeiros fuminhos, fabricados e fumados em recantos escuros (cuidado com a bófia!). O Gingão, as Couves, o Danúbio Azul. Heavys, punks, e outras tribos... Bater com os calcanhares no rabo a fugir dos skins, subir o elevador à pendura. Pão quente, moshes, morte aos betos! E a guitarra do Slash...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Jukebox

Era uma das minhas alcunhas na escola, Jukebox.

Música, música, música!

1...2...3...