quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Amor Organizado



Entrámos no carro e o rapaz do cabelo cor de fogo disse - "oiçam esta, é para vocês!". A canção era " A change would do you good" da Sheryl Crow. Fiquei zangada porque sabia que a minha vida nessa altura precisava de grandes mudanças e eu não andava para aí virada. Nunca lhe disse que ele tinha razão nem que esse pequeno momento ficou gravado na minha memória. Também nunca lhe disse que esse álbum que me acompanha desde então. "Sheryl Crow" da Sheryl Crow... Um momento de genialidade. Um álbum incrível, que descubro cada vez que oiço.
Hoje fui buscá-lo porque me apeteceu ouvir o "Hard to make a stand". Uma grande verdade que, de repente, me fez tanto sentido...
Se a minha área de trabalho é naturalmente complicada porque lida apenas e só com pessoas, a organização que me "enquadra" é um colectivo esquizofrénico que não entende conceitos tão simples e essenciais como o respeito ou a dignidade. Descubro a cada dia a impossibilidade de me realizar enquanto "enquadrada" desta forma. E novamente me surge a imagem do rapaz com o cabelo cor de fogo... " A change would do you good"!
Talvez esteja na minha hora de mudar, novamente...
Quis escrever sobre o que sentia e ao procurar vídeos da Sheryl, encontrei este lindíssimo "Redemption Day" ao vivo e reparei na frase projectada na tela do palco:
- "That's all nonviolence is - organized love" - Joan Baez -
Amor organizado... tenho que o encontrar. Aqui e agora nem o vislumbro. Está na altura de mudar.

domingo, 25 de janeiro de 2009

E porque jukeboxes há muitas... Purple Stain

Intro

E porque jukeboxes há muitas, deixo-vos com... Purple Stain. É dedicado a uma homónima com quem partilho mais do que o nome. É nos momentos mais difíceis que a música cumpre o seu papel mais extraordinário, mostrando-nos que não estamos sós e que, apesar de tudo, haverá sempre um amanhã, diferente, melhor.



Primeiro ano da Faculdade. A desvendar-nos os mistérios da Psicologia Experimental, um Cromo de cabelos encaracolados compridos, ar tresloucado, que sempre suspeitámos deixar às leis do acaso, pouco científicas, a atribuição das notas. Suspeição que confirmei quando recebi a nota da segunda frequência. Tinha passado, quando esperava um falhanço rotundo!!! A minha estrelinha por uma vez a beneficiar-me...
Deste Professor, além da pauta das notas, lembro-me dos exemplos com que nos explicava correlações, análises de clusters, métodos quase-experimentais... Surreais todos eles! Nos acetatos, macacos pendurados em gráficos, cenouras que cresciam mais ou menos em função da humidade do ar, pombos que depenicavam bagos de milho consoante a hora do dia e o entusiamo das pessoas nos espectáculos dos Red Hot Chili Peppers dependente da variável "número de encores", e por aí em diante...
Por isso, durante algum tempo, os Red Hot foram para mim qualquer coisa do imaginário de um Cromo criativo, e com os quais perdia noites de sono a tentar descodificá-los para passar à maldita cadeira. Quando descobri que existiam mesmo fiquei surpreendida! Afinal o meu Professor era deste planeta! Quando os vi pela primeira vez na televisão e olhei para a figurinha do vocalista, percebi a correlação entre aquele Cromo e o grupo: positiva e altíssima!!!
Alguns anos depois oferecem-me "Californication". Não conseguia passar da faixa 3, "Scar Tissue". A guitarra no início hipnotizava-me. Depois ouvi o resto. Com prazer.
Muito tempo depois, uma festa na minha casa. Memorável. A Cat sentada no chão da minha sala, rodeada de caixas de cds por todo o lado, a rosnar a quem se atrevesse a interferir na sua tarefa de DJ da noite. O ar de felicidade absoluta ao descobrir, no meio daquele inferno drunfa, o Californication. A dizer-me: "tu tens aqui um álbum muito bom!!!". E virou e revirou a caixa, com carinho, senti... (e algum alívio, provavelmente a pensar ainda há esperança naquela rapariga...)
O tempo passou novamente. Em tempos tristes e dificeis aconteceu-me a vontade de ouvir qualquer coisa mais "violenta". Lembrei-me do Californication. A tocar no carro. Transformou-se numa das muitas estratégias que tive de inventar para comunicar com uma adolescente. Ofereci-lhe o CD. O meu.
E o meu contributo hoje para esta Jukebox comunitária é o "Purple Stain", a música preferida de uma miúda de 12 anos, homónima de uma outra miúda com mais alguns. Preferida só porque gosta da "voz dele no início"...

La Payita

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

E porque jukeboxes há muitas... Capitão Romance



Quando a Cat me pediu para fazer um post neste blog, e sugeriu o nome Ornatos, senti uma identificação imediata com o tema. Por vários motivos... Porque os Ornatos são uma das minhas bandas favoritas. Porque foi através da Catarina que eu comecei a prestar mais atenção a esta banda do Porto.

Tenho muitas referências da música dos Ornatos, mas há uma que me vem automaticamente à cabeça...
Verão de 2002, os Sons de Cá estavam num momento alto da sua carreira com a formação da altura, na qual eu era guitarrista. Pela mão de um certo produtor fomos parar ao palco Optimus do Festival Vilar de Mouros. Para nós era uma oportunidade única... Uma energia enorme corria-nos nas veias, fruto de um sonho que ia rompendo pela realidade.
Lembro-me de um grande concerto e de sairmos com a sensação de que tínhamos dado mais um sólido passo na concretização dos nossos sonhos... Depois do concerto vagueámos juntos, ébrios de emoção... Lembro-me de um vinho verde, que saboreámos como se nunca tivéssemos provado nada assim. Durante esses momentos, no Palco principal, rodava um dos melhores álbuns de sempre da música portuguesa.
Comemos, bebemos, rimos e ligamo-nos ao som daquele disco.
Momento especial, música especial.
Lembro-me especialmente de ter sentido este tema.
... Algum tempo depois, tive o prazer de conhecer e tocar com o Elísio Donas, e de lhe dizer que, por estas e outras histórias, a música deles já não era só deles, mas que me pertencia a mim e a muitos outros (acho que ele gostou de ouvir...).

Pedro

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Do outro lado do espelho

E do outro lado do espelho...




Believe - K's Choice

Bravely I look further than I see
Knowing things I know I cannot be, not now
I'm so aware of where I am, but I don't know where that is
And there's something right in front of me and I

Touch the fingers of my hand
And I wonder if it's me
Holding on and on to Theories of prosperity
Someone who can promise me
I believe in me

Tomorrow I was nothing, yesterday I'll be
Time has fooled me into thinking it's a part of me
Nothing in this room but empty space
No me, no world, no mind, no face

Touch the fingers of my hand and tell me if it's me
Holding on and on to Love, what else is real
A religion that appeals to me, oh
I believe in me

Can you turn me off for just a second, please
Turn me into something faceless, weightless, mindless, homeless Vacuum state of peace

On and on and on and on and on and on and on and on
I believe in me
On and on and on and on and on and on and on and on
I believe in me

Wait for me, I'm nothing on my own
I'm willing to go on, but not alone, not now
I'm so aware of everything, but nothing seems for real and
As long as you're in front of me then I'll

I watch the fingers of our hands
And I'm grateful that it's me
Holding on and on and on and on and on and on and on and on and on and on
I believe in me

I'm willing to go on but not alone, not now
I'm so aware of everything

O Vazio



Big Empty... Sentiu-o na pele, aliás, umas quantas camadas abaixo dela. Invadiu-lhe a alma a determinada altura. Começou por ser um vazio pequenino. Um silêncio onde havia voz. Um ligeiro cansaço, uma indiferença quase confortável. Os dias pareciam não trazer nada assinalável, tudo era previsível e entediante. Cada um desses dias alimentava o vazio, que por essa altura era a única coisa que crescia dentro de si. E como crescia! Tomou conta de tudo, pintou-lhe a alma de negro e deixou-a a flutuar numa terra de ninguém, algures entre o pesadelo e a realidade.
Vivera sempre atenta aos outros, pronta a estender a mão assim que alguém escorregasse. Agora perguntava-se porque ninguém a via cair. Seria um direito seu, deixar-se ir. O vazio engolia o medo que sempre sentira de que tudo à sua volta desmoronasse. Tanta coisa que nunca se tinha permitido... Agora era possível. O vazio permitia-o.
Como numa metamorfose, quando o vazio a preencheu totalmente, sentiu-se livre. Vazia mas livre. Livre para viver uma vida ao contrário, como uma Alice do outro lado do espelho.

Drivin faster in my car
Falling farther from just what we are
Smoke a cigarette and lie some more
These conversations kill
Falling faster in my car

Time to take her home
Her dizzy head is conscience laden
Time to take a ride
It leaves today no conversation
Time to take her home
Her dizzy head is conscience laden
Time to wait too long
To wait too long
These conversations kill

To much walkin, shoes worn thin
Too much trippin and my souls worn thin
Time to catch a ride
It leaves today, her name is what it means
To much walkin, shoes worn thin

Stone Temple Pilots

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

101



Tudo começou numa excursão à Serra da Estrela no 10º ano. Um colega emprestou-me o walkman onde rodava a cassete do 101 dos Depeche Mode. Já conhecia algumas músicas mas fiquei apaixonada pela energia da música deles ao vivo. Assim que cheguei a Lx gravei a dita cassete e pouco tempo depois consegui a versão VHS do concerto. Nunca mais lhes perdi o rasto. Nem sei explicar bem porque gosto tanto deles. É uma coisa de pele, de reacção química aos ambientes musicais criados.
Vivi muitas coisas ao som dos Depeche Mode. São recordações quase sempre nocturnas, intensas, dançáveis e sensuais. Ao longo do tempo fui encontrando outras pessoas, raras, com a mesma paixão que eu. De uma amizade colorida chegou-me mais um álbum deles, Songs of Faith and Devotion, que contém o maravilhoso I Feel You, com efeitos de Bolero de Ravel em versão electrónica. Passava quase sempre no Incógnito e punha toda a gente doida. No campo encontrei uma miúda, uns dez anos mais nova que eu, com quem partilhei a velhinha cassete VHS com o 101 em serões de palheta animada.
Hoje já tenho DVD que volta e meia lá faz de banda sonora a noites mais inspiradas. Um clássico no verdadeiro sentido da palavra. Nenhuma das canções perdeu a sua força, intensidade ou sentido. Borboletas na barriga, sempre. Como da primeira vez.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Like Suicide...



Continuando no ambiente grundge, e porque ainda não tinha falado neles, faço agora justiça aos Soundgarden. Tal como o resto da rapaziada já mencionada (Pearl Jam, Alice in Chains e Stone Temple Pilots), fazem parte do meu imaginário e marcaram uma fase de vida. O álbum Superunknown ainda roda muitas vezes no leitor de cds e esta é a sua faixa nº15. Foi, desde sempre, uma das minhas preferidas. "Like suicide", fala de amor e tem (mais detectável nesta versão acústica) um ambiente Led Zepliniano mas mais dark, como aliás é comum no movimento grundge, e mais comum ainda na linguagem dos Soundgarden.
Constato agora que a frase "love's like suicide" continua a fazer sentido no amor vivido hoje, como fazia no amor vivido há 15 anos atrás. Se é verdade que o amor é fonte de libertação, que o acto de nos darmos a alguém nos pode tornar plenos, realizados, também é verdade que o amor nos aprisiona, não tanto ao outro mas a nós próprios. Porque exige um equilíbrio raro, um esforço constante. Porque o outro é um espelho no qual se reflecte o que temos de melhor e pior. E porque nos torna irracionais, frágeis tão a descoberto como uma conta à ordem por volta do dia 15!
A forma dramática como vivi os primeiros amores evoluiu apenas para uma versão aparentemente mais contida e estabilizada. Mas é meramente uma questão de aparências. Se já deixei de partir coisas no meio de discussões amorosas, continuo a desejar parti-las, e a minha cabeça é, nessas alturas, um contentor de cacos que se despedaçam em todas as direcções. É inevitável sofrer, é inevitável querer morrer e matar. Se não fosse assim, não seria amor. Certo?
Parece que sim. Parece que eternamente será sim.
Citando o final de uma das mais incríveis canções alguma vez compostas em Portugal:

(...) Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura
Ora amarga, ora doce
Para nos lembrar que o amor é uma doença
Quando nele julgamos ver a nossa cura

(Ornatos Violeta)

PS - para quem gosta de grundge, o vídeo tem imagens muito fixes desses tempos...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

I want to believe...


A crise. Financeira, social, global, grave. Israel mostra mais uma vez o seu melhor, no Zimbabwe morrem aos milhares. Fábricas fecham, milionários suicidam-se, Ucrânia e Rússia medem forças. Podia continuar e continuar... No meio de tudo isto, estamos a poucos dias de ver o homem que se atreveu a falar em esperança ocupar o lugar de Presidente dos Estados Unidos da América. Será ele capaz? Será ele verdadeiro? Deverei ter esperança?
Hoje de manhã desliguei o rádio do carro recusando ouvir mais uma vez as notícias. O leitor de cd's deu-me este tema da Pink em alternativa. Como se percebe facilmente, é dedicado ao Bush. Mas podia ser para qualquer outro político no poder. Tal como a Pink, pergunto-me como é que toda esta gente dorme de noite. Mais que isso, pergunto-me como os deixamos dormir tranquilamente. O que fazemos? Na rua só andam os chatos dos professores que não querem ser avaliados...
Estamos mal, ao nosso lado há quem esteja ainda pior, e o sofrimento multiplica-se mundo fora. Na maioria dos casos, única e exclusivamente por interesses que só interessam e só beneficiam meia dúzia de seres humanos. Os tais que andam na rua de cabeça erguida, que dormem tranquilamente. E nós deixamos? Assistimos sentados em frente da televisão ao colapsar de um sistema que tinha morte anunciada há muito. Sentados, abanando a cabeça e cuspindo umas quantas postas de pescada. E à espera... à espera que um homem cumpra a sua palavra e vire o jogo. Quase como nos X Files, "I want to believe". Mas a verdade é que acredito tanto no Obama como nos ETs do Mulder. E nós? E eu? Que fazemos? Contas à vida, que anda difícil, arriscamos projectos pessoais e familiares rezando para que tudo corra bem. E se correr mal, que corra mal aos outros. Pergunto-me o que será necessário para que eu, para que todos, gritem BASTA! Definitivamente.
Hoje acabo dia a perguntar como eu ainda durmo de noite. E tu?

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

I Stay Away



Às vezes ouvimos insistentemente determinadas canções durante anos. Os álbuns rodam mas só ouvimos com ouvidos de ouvir algumas faixas. Um dos fenómenos que me acontece com alguma frequência é descobrir e apaixonar-me por determinada canção anos depois. Essa é a minha história com esta canção. Tal como os Pearl Jam, os Alice in Chains (e os Stone Temple Pilots sobre os quais ainda hei-de escrever) foram banda sonora de alguns anos da minha vida. Mas este "I Stay Away", descobri-o depois. E apaixonei-me. É, ainda hoje, um dos temas dos Alice que mais gosto. E descobri-o porque estava zangada. Muito zangada. Vivia no campo e saí de carro sem destino. Acelerava na estrada nacional quando esta faixa começou a tocar. Estava longe dos velhos amigos, longe da cidade e dos refúgios habituais. Sentia-me só, deslocada e incompreendida. A música, a letra, todo o ambiente do "I Stay Away" parecia traduzir exactamente o que sentia naquele momento.
Nem sei bem como, mas acabei por ir parar ao Cromeleque dos Almendres. Um sítio incrível e mágico. O dia estava no fim, as pedras estavam quentes e deixei-me estar por ali, encostada a uma pedra, perdida no seu calor, na sua energia. Enquanto o Sol desaparecia e a noite lentamente se afirmava fui sentindo toda aquela raiva e zanga desaparecer. Voltei para casa com a mesma banda sonora mas bem mais tranquila. A minha gente esperava-me, preocupada com a minha ausência prolongada após a saída em fúria. O jantar estava pronto. A refeição começou em silêncio mas a tensão que restava foi rapidamente libertada e a conversa animada retornou, como de costume. Parei um momento para nos observar. Pertencia ali, sem dúvida. Se permanecesse away seria uma escolha. Um erro só meu.