segunda-feira, 6 de julho de 2009

Agora é o caso



Não costumo falar de trabalho aqui. Excepto quando o trabalho vem para casa comigo. Agora é o caso.
Violência. Natureza humana. Mais dura e secreta quando acontece dentro de casa. Violência doméstica. Mexe com todos nós, não se iludam. Fala, aliás, grita coisas horríveis sobre todos nós. Por isso, a cabeça lá nos prega mais uma rasteira e faz por nos cegar.
A degradação das relações humanas, a céu aberto em jornalecos sensacionalistas, abrindo telejornais, escancarando portas de hospitais, tribunais e prisões.
Mas apenas quando o ciclo se quebra de forma definitiva, irremediável. Para trás ficaram anos, (10 anos, 20 anos, 30 anos...) de gritos sem eco, queixas engavetadas, pedidos de ajuda mais ou menos evidentes. Fora umas poucas mãos cheias de mulheres e homens seriamente empenhados nesta luta, a grande maioria permanece impávida e serena, cultivando a tradição da violência nas nossas casas pelo SILÊNCIO, que na melhor das hipóteses permite-se crescer a um murmúrio momentâneo.
Não exagero(infelizmente)acreditem. Os ciclos quebrados a tempo, as pequenas vitórias, acontecem única e exclusivamente porque alguém escolheu ver, ouvir, sentir e agir. Existiu uma interacção e aquela história deixou de ser um segredo. E é a partir daí que surgem planos, estratégias, hipóteses de saída.
Os maus segredos, fora do armário, tendem a encolher...
Escolham ver, ouvir e sentir aqueles que se cruzam nas vossas vidas. É a única arma possível para uma revolução que tarda em chegar...

5 comentários:

fumante disse...

A violência doméstica é um tema de hoje e de sempre. Durante anos foi escamoteada, atirada para o fundo do poço, de onde gritava, o eco soava, mas ninguém ouvia.
Parece agora que, finalmente, se começam a tirar os tampões dos ouvidos. Mas não nos iludamos. A maior parte da população continua a fazer ouvidos moucos. Continua a fazer sobressair a cultura enraizada, os poderes relacionados com os conflitos de género, as “obrigações” dos Homens e, sobretudo, das Mulheres.
Fazer jus ao papel de Mulher, Mãe e Dona de Casa é ainda o atributo valorizado por muitos homens. É ainda o expectável e o exigível. Quando isto não acontece, continua-se a maltratar, a difamar, a acusar a Mulher que escolheu dizer não a essa vida.
Ah e tal que isto já não é bem assim. Olhem à vossa volta. Mas olhem com olhos de ver.
Reparemos na quantidade de homens que procuram uma Mãe na sua mulher. E na quantidade de mulheres que procuram mais um filho no seu marido. Muitas vezes são estas as questões centrais, é isto que está na base do problema. É um amor doente. Como está na moda, pode-se dizer que é um amor com H1N1.
Sim, porque se uns estão errados, as outras não estão totalmente ilibadas. Não são culpadas, mas têm características que potenciam o seu estado de vitimação.
Não me quero alargar mais sobre o tema, porque é o que tem de complexo que lhe confere tanto interesse e o transforma numa mata ainda por desbravar no que diz respeito à intervenção diária. Lá estou. Bem no meio da floresta mas ainda tão rodeado de vegetação…Vale a companhia na floresta. E tu, Catizzz, lá estás ao nosso lado a construir caminhos.

fumante disse...

E porque isto é uma juke...cá ficam mais umas referências musicais que reportam à violência doméstica:

Better Man - Pearl Jam
http://www.youtube.com/watch?v=ZaALkWgG7bk

Luka - Suzanne vega
http://www.youtube.com/watch?v=Ls4OXo6gj-0&feature=related

Kylie Minogue & Nick Cave - Where The Wild Roses Grow
http://www.youtube.com/watch?v=8srgfw7GDkM

(...)

La Payita disse...

Remoí e remoí este post. E respectivo comentário. Magníficos e com Duende! Olé!

E por ser trabalho... Não sei. Não me apetece comentar. Porque o que me apetecia mesmo era que outros, os que estão de fora, os que não trabalham com estas realidades, escrevessem qualquer coisa...

Vá! Toca a teclar! É bom ouvir outras vozes!!

catizzz disse...

Duvido que aconteça (que alguém comente como "civil"). Não constitui nenhum tipo de indicador, mas que de alguma forma é sintoma daquilo que falávamos...

joana disse...

grande Catz!
Não sou civil, pois não, e por isso mesmo já estou prontinha para te pedir que transformes este post no próximo artigo para publicação no jornal do costume. oportunismo ou oportunidade? decide tu.