quinta-feira, 30 de outubro de 2008

E porque jukeboxes há muitas... Lay me Low

Intro
E porque jukeboxes há muitas, desafiei um amigo a escrever um post sobre uma canção do Nick Cave, uma vez que, embora respeite muito o artista (sim, que o artista é um bom artista!), não faz, definitivamente, parte do meu imaginário musical. Espero que esta seja a primeira de muitas colaborações, com este e outros amigos que aqui queiram partilhar as suas jukeboxes.

Notas
Embora o autor não o tenha feito, tomei a liberdade de incluir o único vídeo que encontrei com esta canção. O post não vinha assinado de origem. Mantenho o anonimato do autor até ordens em contrário.

E sem mais demoras, deixo-vos com...

Lay me Low



Foi há precisamente dezassete anos que conheci Nick Cave & The Bad Seeds e foi, para mim, uma espécie de Revelação que alterou indelével e irreversivelmente o meu gosto musical. Aquele anjo negro pegou-me na mão e conduziu-me aos recantos mais profundos da alma humana, e eu segui-o como Dante seguiu o poeta. Uma descida aos abismos infernais, vagueando entre espíritos atormentados, ao som áspero das sementes ruins, de onde se eleva a voz do trovador: gutural, arrancada do peito num grito de alma que rasga a garganta para nos falar de dor, melancolia, raiva, sofrimento, provocando-nos uma inquietação profunda, visceral.
Nesta Divina Comédia somos convidados a percorrer três mundos, que se interligam: Morte, Religião e Amor. O tríptico que ele abre e nos mostra na catedral da ruína humana, dos angustiantes enganos, das paixões, do Amor não deixando de nos apresentar aquelas que ele considera as “suas pequenas e feias irmãs gémeas”: Desespero e Decepção.
Recorrendo a um conceito que aprendi há pouco tempo, através de uma amiga minha, arriscaria a dizer que Nick Cave é inspirado pelo duende, um conceito associado à expressão artística espanhola, que segundo Lorca está contido em todos os “sons negros”. Dezassete anos depois consigo aplicar um conceito que define correctamente o que senti e sinto ao ouvir Nick Cave “uma força misteriosa que todos sentimos, mas que nenhum filósofo consegue explicar”.
Das várias músicas dele, apresento-vos uma das minhas favoritas. E deixo que o poeta fale por si. Acrescento apenas que uma das duas que gostaria que fosse tocada no momento de “Lay me Low”.

They're gonna lay me low (Lay me low)
They're gonna sink me in the snow
They're gonna throw back their heads and crow
When I go

They're gonna jump and shout (Lay me low)
They're gonna wave their arms about
All the stories will come out
When I go

All the stars will glow bright (Lay me low)
And my friends will give up the fight
They'll see my work in a different light
When I go

They'll try telephoning my mother (Lay me low)
But they'll end up getting my brother
Who'll spill the story on some long-gone lover
That I hardly know

Hats off to the man
On top of the world
Come crawl up here, baby
And I'll show you how it works
If you wanna be my friend
And you wanna repent
And you want it all to end
And you wanna know when
Well do it now don't care how
Take your final bow
Make a stand Take my hand
And blow it all to hell

They gonna inform the police chief (Lay me low)
Who'll breathe a sigh of relief
He'll say I was a malanderer, a badlander, and a thief
When I go

They will interview my teachers (Lay me low)
Who'll say I was one of God's sorrier creatures
There'll print informative six-page features
When I go

They'll bang a big old gong (Lay me low)
The motorcade will be ten miles long
The world will join together for a farewell song
When they put me down below

They'll sound a fluegelhorn (Lay me low)
And the sea will rage, and the sky will storm
All man and beast will mourn
When I go

Hats off to the man
On top of the world
Come crawl up here, baby
And we can watch this damn thing turn
If you wanna be my friend
And you wanna repent
And you want it all to end
And you wanna know when
Well do it now Do it now
Take a long last bow
Take my hand Make a stand
And blow it all to hell

Lay me low...
When I go...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Músicas da Rádio I



As músicas da rádio. Não as escolhemos, elas escolhem-nos a nós. Para mim, que oiço rádio no carro, no trabalho e muitas vezes em casa, são elas a banda sonora do quotidiano. As músicas da rádio. Mais ou menos foleiras, mais ou menos comerciais, canto-as de fio a pavio. E já tenho coro! Os meus rebentos, não fossem filhas de sua mãe, adoram música, adoram cantar.
No Inverno passado estivémos só as três. O pai teve que ir trabalhar para longe, só vinha ao fim de semana. Não foi nada fácil! Além das saudades, tivémos que ir ensaiando novas rotinas, novos rituais. Dias cinzentos, frio e chuva puxavam-me ainda mais baixo, só mesmo as miúdas me coloriam os dias. E de que maneira...
Esta canção tocava sem parar nas rádios e o refrão ecoava na minha cabeça como se escrito para mim: "enquanto vergo não parto, enquanto choro não seco...".
Uma dessas manhãs cinzentas (por dentro e por fora), a caminho da escola, mais uma vez a canção tocava no rádio do carro. Os meus olhos cheios de água já quase não viam a estrada, quando ouvi, vindo do banco de trás, um coro afinadinho a cantar o refrão. As lágrimas já me desciam pela cara mas um sorriso enorme instalou-se de imediato. Juntei-me ao coro e limpei as lágrimas. O dia correu cinzento, mas eu fiquei em arco-íris.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O Punk



Punk. Uma palavra, presente no imaginário de todos nós, mas que para mim, antes de qualquer outra coisa, representa um rapaz, e apenas um rapaz.
O Punk. Se ele era realmente punk, se cumpria todos os requisitos para isso, não faço ideia, nem me interessa. Para nós foi sempre "O Punk". Na altura,também ouviamos umas "punkalhadas" mas a postura de grupo puxava mais para o metal, embora( felizmente), fossemos todos bastante ecléticos. A postura dele, do Punk, era efectivamente de punk. Contaria dezenas de histórias para provar esta teoria, mas não o vou fazer. Digamos apenas que, a maioria do tempo, se dedicava a inventar brincadeiras muito estúpidas e perigosas. Mas isso não é o mais importante. O mais importante é que o Punk era um rapaz muito inteligente e sensível, com uma criatividade plástica incrível.
A vida nunca não foi fácil para ele, e hoje, ao reflectir sobre isso, descubro muita coisa que na altura não podia ver. As suas inseguranças e carências,a sua necessidade constante de amar e de se sentir amado. O seu enorme talento. E a ironia da sua história.
O Punk foi ao fundo do poço, mesmo. Mas o poço não acabou com ele. Ele acabou com o poço e renasceu. De uma forma para nós estranha e incompreensível, mas à maneira dele, a única possível provavelmente.
Durante muito tempo achei que ele ia morrer cedo. Tantas asneiras...
Mas depois sosseguei, ele estava bem, estava a refazer a vida dele, noutra vida. Trabalho, namorada, rotinas certinhas. A paixão das motas.
Só soube da sua morte depois do funeral. Estava em Praga e ninguém me quis estragar a viagem. Até hoje guardo a tristeza de não me ter despedido dele. Até hoje guardo o sentimento incrédulo perante a sua morte. Por ele, até hoje guardo a certeza da total incerteza das nossas vidas e da ironia da nossa morte. Porque com ele, morreu um pouco de todos nós, mas em nós vive um pouco do Punk que ele foi.
Anarquia!
Esta é para ti João, onde quer que estejas!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

I'm just a girl



Cresci no meio dos rapazes. Muitas vezes era a única rapariga e gostava disso. Mas nunca foi fácil. Se me tratavam como diferente ou me punham de parte, ficava furiosa. Se me tratavam como igual, negligenciando as minhas sensibilidades femininas, amuava. Mas apesar de tudo, era muito divertido. Os rapazes eram mais livres, com eles vivi experiências importantes e aprendi, muito cedo, que a igualdade de género é ainda uma miragem em muitos aspectos. Talvez nos mais importantes.
Vê-los safarem-se com todo o tipo de loucuras às quais os adultos achavam imensa gracinha, considerando-as perfeitamente compreensíveis, afinal, eram rapazes... Se eu fizesse metade das ditas loucuras, era o fim do mundo (onde é que esta rapariga vai parar???!!!)! Fui olhada de lado e criticada, mas nunca recuei. Aquela liberdade era minha também, raios! Ou não foi isso que nos ensinaram?
A liberdade estava ganha, os nossos pais tinham-na conseguido. Para nós, para todos.
Ilusão... Das raparigas toda a gente continuava a esperar uma postura social "adequada", mais recatada e serena. Mas isto já não era afirmado em voz alta. Em voz alta o discurso era efectivamente o da igualdade, o da liberdade. Confuso para quem está a crescer e tenta entender o que se passa à sua volta, não?
Hoje sou mãe de duas meninas. Espero sinceramente que para elas seja mais fácil conquistar o seu lugar no mundo, sem amarras de nenhuma espécie.
Espero sobretudo que nunca tenham que gritar "I'm just a girl in the world... that's all that you let me be!"

sábado, 18 de outubro de 2008

Tudo...



Com este som, com estas palavras... não há mais nada a dizer. Esta música é uma arma. Sempre que precisarem de força... play it! Everything is Everything!


Everything is everything
What is meant to be, will be
After winter, must come spring
Change, it comes eventually


I wrote these words for everyone
Who struggles in their youth
Who won't accept deception
Instead of what is truth
It seems we lose the game,
Before we even start to play
Who made these rules? We're so confused
Easily led astray
Let me tell ya that
Everything is everything
Everything is everything
After winter, must come spring
Everything is everything

I philosophy
Possibly speak tongues
Beat drum, Abyssinian, street Baptist
Rap this in fine linen
From the beginning
My practice extending across the atlas
I begat this
Flippin' in the ghetto on a dirty mattress
You can't match this rapper / actress
More powerful than two Cleopatras
Bomb graffiti on the tomb of Nefertiti
MCs ain't ready to take it to the Serengeti
My rhymes is heavy like the mind of Sister Betty
L. Boogie spars with stars and constellations
Then came down for a little conversation
Adjacent to the king, fear no human being
Roll with cherubims to Nassau Coliseum
Now hear this mixture
Where hip hop meets scripture
Develop a negative into a positive picture

Now, everything is everything
What is meant to be, will be
After winter, must come spring
Change, it comes eventually

Sometimes it seems
We'll touch that dream
But things come slow or not at all
And the ones on top, won't make it stop
So convinced that they might fall
Let's love ourselves then we can't fail
To make a better situation
Tomorrow, our seeds will grow
All we need is dedication

Let me tell ya that,
Everything is everything
Everything is everything
After winter, must come spring
Everything is everything

Everything is everything
What is meant to be, will be
After winter, must come spring
Change, it comes eventually

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Rainhas do Vento



Era uma piaggio branca às bolas vermelhas, coladas com papel autocolante. Fui pendura habitual durante muito tempo. Qual NSR, qual DT ou LC! A mota das bolinhas era um sucesso. E as miúdas que "voavam" a 40km/hora em cima dela também! Iamos sempre a cantar. Tinhamos um reportório especial, escolhido a dedo. Podíamos gritar, o que era libertador e adequava-se bastante bem ao tipo de som que ouvíamos na altura (heavy metal or no metal at all!). " Master of the wind" dos Manowar era sem dúvida o Nº1 da playlist. Só por causa do refrão: "Fly away...".
Mesmo a 40 km/hora éramos as Rainhas do Vento, completamente livres. Como alguém já disse, eramos felizes e não sabíamos...

Crush



Estava cansada, com frio e com fome. Tudo era novo e estranho. Tinha dito adeus a Lisboa, às minhas dores urbanas e apostava tudo naquela nova vida, no campo. Os fantasmas da "outra vida" agarravam-se desesperadamente a mim e murmuravam-me ao ouvido: " não nos deixes! somos teus, somos tu!". Nascer outra vez nunca é fácil.
Estacionei o Panda à entrada da quinta. As cadelas e o gato vieram, como sempre, dar-me as boas-vindas. Cheirava a peixe assado. O casal tinha visitas. Dois homens. Pensei imeditamente recusar o convite que me iria ser feito para comer com eles. Apesar da fome, não me sentia com forças para socializar. Mas a postura maternal da jovem mulher era desarmante, sobretudo para quem se sentia estranha entre estranhos. "Estás tão pálida! Temos peixe de Setúbal, é fresquinho! Come connosco, vê-se mesmo que precisas de uma boa refeição!". Cedi sem grande resistência mas sem grande convicção. Fui apresentada aos dois homens, mas não lhes prestei grande atenção. Estava decidida a comer rapidamente para me ir refugiar no meu quarto. Sentei-me na mesa ao lado de um deles, de frente para o casal. O outro conversava de pé enquanto vigiava o peixe na grelha.
Não me lembro dos temas, mas sei que, pouco a pouco, soltei-me e fui participando das conversas. O homem ao meu lado era primo da jovem mulher. Tinha olhos claros e conversou comigo como se nos conhecessemos há muito tempo. Habitualmente teria atribuído enorme importância a esse facto, mas o corpo moído e a cabeça viajante não me deixavam viver aquele momento. Só conseguia antecipar a minha retirada para o quarto.
Quando finalmente me atirei para cima da cama e desliguei a luz a imagem daquele homem de olhos claros surgiu nos meus olhos fechados. Tentei apagá-la, concentrei-me noutros pensamentos. Sem qualquer sucesso. A imagem permanecia nos meus olhos fechados. Era tão nítida que podia percorrê-la, descobrindo todos os pormenores que não havia percebido durante o jantar. Era um homem muito bonito, mas mais que isso, era-me familiar de alguma forma ainda inexplicável. Enigmas masculinos são tudo o que não preciso neste momento, pensei. Mas até adormecer, e talvez mesmo durante o sono, a imagem do homem dos olhos claros permaneceu nos meus olhos fechados.
No dia seguinte, acordei cedo e os fantasmas da "outra vida" não vieram dar-me os bons dias. Da cozinha chegavam-me os primeiros acordes do "Crush" dos Dave Mathews Band e o cheiro a café acabado de fazer.
Fechei os olhos e a imagem do homem dos olhos claros sorriu-me.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Crapot



A casa era mesmo em frente à escola. O quarto era enorme. O mais desarrumado da história. Afastávamos os livros, os papeis, a roupa e as outras tralhas que tapavam o chão de madeira. Só o espaço suficiente para deitar as cartas e jogar um crapot. O "The Wall" rodava numa cassete muito gasta.Ela ganhava quase sempre, eu perdia-me em conversas e cantorias e esquecia-me da estratégia. Era só nosso aquele ritual, familiar e apaziguador. E tínhamos tanto tempo...
Crescemos, ela deixou o quarto enorme e desarrumado da casa da mãe. As nossas vidas deram voltas e mais voltas. Deixámos de jogar, houve mesmo alturas em que deixámos de nos ver, de nos falar.
Anos mais tarde, quando o pai dela morreu e ficámos por umas horas sozinhas, ela pôs o "The Wall" a tocar (agora já em cd) e perguntou: Jogamos um crapot?

Sweet child of mine



Início da adolescência. Finalmente, provar frutos proibidos. Já posso sair à noite! Borboletas na barriga de tanta excitação. Cada noite reservava acontecimentos essenciais, inadiáveis (ele hoje vai estar lá...). Primeiros copos bebidos ao balcão, como gente grande! Primeiros fuminhos, fabricados e fumados em recantos escuros (cuidado com a bófia!). O Gingão, as Couves, o Danúbio Azul. Heavys, punks, e outras tribos... Bater com os calcanhares no rabo a fugir dos skins, subir o elevador à pendura. Pão quente, moshes, morte aos betos! E a guitarra do Slash...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Jukebox

Era uma das minhas alcunhas na escola, Jukebox.

Música, música, música!

1...2...3...