sexta-feira, 20 de março de 2009

A Espera



Aquela espera era rotineira mas insuportável. Não valia a pena fechar os olhos e tentar dormir. O corpo não deixava. Cada minuto durava uma vida inteira, talvez nem chegasse viva ao próximo. O fim da espera nunca tinha hora marcada. Podia demorar o dia inteiro, podia surgir no minuto seguinte. A sua cabeça fervia em pensamentos terríveis e desorganizados, o corpo teimava em desobedecer-lhe e ganhava vida própria.
Perante este quadro, sabia que só havia uma coisa a fazer. Desligar a luz e ligar a música, som no máximo. Só resultava com o Radio Waves do Waters. Aos primeiros acordes fechava os olhos e deixava que o corpo desorganizado se orientasse pelo ritmo. Em poucos segundos a harmonia tomava conta de tudo. A partir daquele pequeno quarto para os lados da Estrada de Benfica, a rapariga, tal como Billy, entrava em comunicação com o universo. Na completa escuridão (uma das condições essenciais para que a estratégia resultasse) e dançando como se da última dança se tratasse, sentia-se abençoada. A espera até podia não ter fim. Assim estava protegida. Pelo poder da música, pelas ondas que a ligavam ao resto do(s) mundo(s). Assim permaneceria viva.

2 comentários:

Jakk disse...

Esses tempos para os lados da estrada de benfica lembraram-me esta!

http://www.youtube.com/watch?v=o7BBi4K_Ds8&feature=PlayList&p=3306E5662F6F6DCB&playnext=1&playnext_from=PL&index=14

catizzz disse...

Adoro esta música! Quem sabe, sabe!