sexta-feira, 24 de abril de 2009

E porque jukeboxes há muitas... Góticos ao ataque!

"A atmosfera é realmente maléfica, mas você sente-se à vontade dentro dela". (comentário de Bernard Summer, guitarrista da banda Joy Division, sobre o filme “Nosferatu”, gerou a definição que muitos consideram a mais concisa do assunto.)




O vento agitava as copas das árvores, despojando-as das poucas folhas que ainda resistiam ao crepúsculo outonal. Uma após outra, que se lhe juntava, iam aglomerando-se num leito castanho que atapetava o solo empapado pela chuva e pelo orvalho.
Chegara cedo, acompanhada pelos primeiros raios de sol, tímidos, encobertos, frágeis… Deteve-se por instantes ante o portão de ferro, aberto, fixo ao velho muro de pedra coberto de musgo. Dirigiu o seu olhar para vereda que se que se estendia à sua frente, ladeada por ciprestes, antes de iniciar a sua marcha processional.
E o vento soprou um bafo gélido.
Trazia um manto de veludo com o capuz sobre a cabeça que a cobria de negro e a tornava numa visão espectral.
O seu percurso era acompanhado por estátuas de pedra que vertiam lágrimas. Algumas, prostradas, num desfalecimento de dor sobre lajes frias e esquecidas entre a vegetação densa. Figuras ajoelhadas em pranto. Anjos que erguiam as asas aos céus e os apontavam, sugerindo um caminho para uma salvação que talvez fosse demasiado tarde para alcançar.
Todos eles, mais do que guardar alguém ou para além de lamentar, estavam ali para lembrar aos que passavam: Siste Viator! - Aspice Viator! (Detém-te Viajante - Olha Viajante).
E o vento era um lamento murmurado por entre as árvores.
Chegava ao final do seu caminho, junto a uma laje de mármore, despida, sobre a qual jazia unicamente uma pequena jarra de alabastro onde depositou delicadamente uma rosa, que segurava entre os dedos finos. E esse gesto revelou um braço alvo e uma pele suave e marfinosa. Em seguida, levou as mãos ao capuz e puxando delicadamente para as costas, revelou uns longos cabelos negros, que o vento se apressou a acariciar. E duas lagoas profundas de onde transbordaram lágrimas de saudade, descrevendo o contorno do rosto, deixando atrás de si um sulco bem menos profundo que o provocado pelo desgosto atroz que lhe tinha desfigurado o coração.
E o vento sussurrou uma elegia que falava de duas almas separadas na Sorte.
Olhou o céu cinzento, procurando o caminho da salvação de uma alma que ela desejava salva e a quem ansiava reunir-se na Eternidade. Que nunca mais a Senhora Negra a voltasse a apartar daqueles braços que um dia a haviam confortado. E recordando, ajoelhou-se num pranto mudo e sufocante, e apoiou a fronte na pedra fria, imaginando-a naquela onde tanta vez a tinha encostado com doçura. Depois beijou-a, colando-lhe os seus lábios carmesim, invocando em si doçura e o calor que agora não encontrava.
Quando de repente, num gesto súbito, a ferro frio traçou a linha do seu próprio destino, tomando-o no pulso.
E ficou ali, prostrada sobre aquele esquife de dor e saudade, decidida a unir-se a quem desejava que terra fosse leve. Petrificada naquele abraço, confundia-se com as demais imagens inertes que velavam os seus.
E o vento gritou… e depois…tornou-se uma brisa…

2 comentários:

La Payita disse...

O que é Gótico? :P

Ah! Bela história! E música... Estes tive o prazer de os ver aqui há uns anitos. Grande espectáculo! Ups! Não era pra dizer... ;)

E já que aqui estou... Este post não tem autor? Apareceu da atmosfera maléfica?

Anônimo disse...

Para quem quiser saber mais acerca do universo do Rock Gótico.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rock_gótico

http://weloverocknrollprincipal.blogspot.com/2008/02/rock-gtico-e-sua-origem.html

http://goto-hell.net/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=154