Samuel Mira, mais conhecido por Sam the Kid. Um tipo criado na zona J de Chelas. Uma pessoa especial. Ouçam-no, procurem a sua história. Um revolucionário solitário, como outros que conheço (esta é para ti Forjex!). Daquelas pessoas que nos fazem acreditar que tudo é possível.
Foi difícil escolher um tema dele. Ofereço-vos este, muito pessoal, e transcrevo o que o Samuel escreveu sobre ele:
"Não é fácil alongar-me acerca desta letra, no entanto posso dizer que já a tenho há muitos anos. (...) Quando comecei a escrever, os meus avós - que viviam comigo - ainda eram vivos e eu ainda gravava os álbuns em casa. Por isso é que a parte final da música é uma interrupção às gravações que eu fazia no meu quarto, motivada nas discussões que frequentemente aconteciam, e esta, que está no disco, aconteceu mesmo. O resto fica para mim!"
Não sei se sou um plano ou um acidente com tesão,
Originado com paixão ou com sexo pós discussão,
Na raiz urbanizada na calçada e no alcatrão,
Não te esqueças de onde vens ou és esquecido então,
Eu só ponho uma questão, qual é a razão da minha
origem,
Não te fies na virgem, porque elas fingem e não
dizem,
E caso case ainda te acusam do que trazem,
O ladrão da paz e harmonia fácil empatia,
Com a máxima ironia, omitindo medos,
Paredes têm ouvidos construídos para segredos,
Quando é que tu desabafas?
Depois de 3 garrafas de vinho, ou 20 palavras que eu
não adivinho,
Enquanto a dor ecoa, habituado a que ela doa,
Porque quem amamos mais é quem nos mais magoa,
Ah! Amar e amar, há ir e nunca mais voltar,
Ao lar doce lar até que a morte ou uma traição
separe,
Mentiras omitidas é estranho é quando ocultam cenas,
A paz é singular ou há discussões às dezenas,
Sem qualquer motivo o final nunca é conclusivo,
Apenas um alivio assinado num livro, de onde eu
derivo,
Agora mais vivo, tornei-me no que eu sou,
Dou e recebo e se eu bebo bué é porque saio ao meu
avô,
É hereditário fluxo sanguinário que se transmite,
Ele sai a quem, feio ou bonito podes dar um palpite
que eu não me irrito,
Espaços da casa não ocupados trazem saudades e pensar
nisso é que eu evito,
Eu divido o tempo, na TV noutro evento,
Para não pensar em ti e fazer passar a dor como um
dente,
E toda a gente pergunta, a quem é que ele sai? A quem
ele sai?
Sou má goela porque eu saio ao meu pai,
E toda a gente pergunta, ele sai a quem? Sai a quem?
Se acordo tarde é porque eu saio à minha mãe,
Mas ta-se bem não há beef nunca houve desde novo,
Sem confirmação na comunicação e sem interesse,
Na certeza do amor, com a ausência da razão que eu
desconheço,
Não me convence,
Menciono o plano, de ter o nono ano,
E eu bano o resto eu manifesto-me através do som,
Converso em verso comigo e com o beat,
Com pitt no cubículo onde fico horas sem pressas e sem
demoras eu,
Pareço um ótario operário no meu endereço,
A preço ofereço um corpo solitário preso,
Em posse duma trombose,
Super avozinha fodeu a minha Susana tu chama os
bombeiros,
Mas a vida não para e avança como ponteiros,
Eu contei os anos inteiros até à mudança,
Tolerância cancelada e descansa enfermeiros,
E os primeiros pensamentos são de assumir uma
herança,
Em criança numa casa portuguesa com certeza,
Manca-me debaixo da mesa com a mão presa à cabeça,
A pensar que não aconteça e valesse a pena a batalha,
E eu quebro a cena, tal pai tal filho, tal pai tal
falha,
Não conheço um posto para fazer um juízo,
Porque isto nunca foi penoso isto é o meu paraíso,
E eu economizo ao comunicar isto em concreto,
E eu fico indeciso se eu quero ficar vazio ou
completo,
A mim não me compete fazer a escolha,
Só escolho fragmentos de momentos duma recolha,
De sentimentos, e eu sento e minto se eu disser que
não sinto a tua falta,
Sinto a ausência duma falta de paciência que te
exalta,
Ou exaltava, porque agora silêncio é despertador,
Que desperta humor desperta a dor em mim que eu....
hey pá foda-se
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2 comentários:
Quando trabalhava em Palmela com Jovens com comportamentos de risco (afinal o que é isso mesmo???), muitos deles ouviam constantemente a música do Sam.
Pedi que me fizessem uma cópia.
Quando comecei a ouvir as letras de cada música, comecei a perceber melhor as "cenas" deles/as.
Serviu-me como instrumento de trabalho e foi fundamental na construção da relação com os miúdos.
Ca forte que é o Sam.
É mesmo! Um forte. E o pessoal do social pela-se por estes fortes, não é Sr. Fumante? ;) Ossos do ofício...
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