terça-feira, 23 de junho de 2009
Incrível
Combinámos ir ao concerto com alguns meses de antecedência. Há medida que a data se aproximava, perguntava-me se ainda faria sentido gastar dinheiro e energia num concerto de metal.
Encontrámo-nos umas horas antes. Percebi que não estava só nas minhas dúvidas. O rapaz do cabelo cor de fogo também tinha as suas interrogações. De qualquer forma, estavamos juntos, o que é raro nos dias que correm, uma vez que a maioria do tempo temos um oceano a separar-nos. Pusémos a conversa em dia enquanto nos dirigíamos para a Incrível Almadense.
Primeira constatação: nenhum de nós se lembrava como lá chegar...
Com alguma ajuda tecnológica e umas quantas indicações de um cidadão prestável, lá demos com aquilo.
Segunda constatação: as imediações da Incrível estavam repletas de t-shirts pretas, cabelos compridos, tatuagens e afins. O pessoal da pesada comparecia em força. Não fossem os óbvios sinais de maturidade (barrigas de cerveja, cabelos brancos, rugas e etcs...) diria que tinhamos viajado no tempo.
"Olha aquele! Lembras-te?" - o rapaz do cabelo cor de fogo distribua cumprimentos enquanto eu tentava desesperadamente despachar um assunto de trabalho pelo telemóvel.
Sentamo-nos a beber uma cerveja enquanto nos deixávamos contagiar pelo ambiente. Falámos de nostalgia e da relação com o passado, confortável para uns, quase insuportável para outros...
Quando entrámos, a banda portuguesa que abria as hostilidades já actuava. O jovem vocalista de tronco nu e tiques à Iggy Pop anunciava uma cover dos Dead Kennedys e a sala ainda a meio gás ia ao rubro pela primeira vez naquela noite. Começou o mosh. A segunda banda portuguesa actuou perante uma sala que não parava de se encher de gente. O calor começava a apertar e apelava a visitas regulares ao bar.
Quando os Suicidal Tendencies subiram ao palco, a multidão já gritava por eles há uns minutos. Aos primeiros acordes a sala explodiu ao perceber que se tratava do histórico You can't bring me down. Do balcão podíamos observar toda a energia gerada pela simbiose banda/público, tornada perfeita pela vontade que todos tinham de estar ali a viver aquele momento, aquele reencontro.
Antes de me deixar ir naquela energia, permaneci mais uns momentos a observar tudo aquilo. Lembrei-me das nossas interrogações e receios e sorri. Um concerto de metal é sempre um ritual colectivo extremamente poderoso e purificador. Ainda pertenço aquela tribo, entendo-a, conheço-lhe as regras e os códigos. Fechei os olhos para sentir melhor a paz que chega da constatação de que o meu caminho se me apresenta cada vez mais como um contínuo, no qual tudo o que vivi, vivo e sonho viver faz sentido, sem exclusões, nem arrumações, nem hierarquias. Como diz o Sam "o passado, o futuro e o presente, todos ao mesmo tempo!".
Nostalgia... para quê?!
Obrigada ao rapaz do cabelo cor de fogo (sem ti não tinha ido...), à grande banda que são os Suicidal e toda a gente que esteve na Incrível Almadense e que fez daquela noite insuportavelmente quente uma festa de arromba!
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5 comentários:
Chiça! Até que enfim que eu sei de quem falas sem ter de perguntar!!!
Um Olé com Duende ao rapaz do cabelo cor de fogo! Cadundus! (algo me diz que está mal escrito... ayayayyyy)Besitos!
;)
Muito BOM!!! :) Esqueceste de fazer referência à nossa "entrevista" e da resposta: "mas que bandas portuguesas???"... ehehhehehehehhe...
Ainda hoje tive uma conversa sobre o concerto, sobre a tribo, sobre a vivência desses tempos... Com alguém que conheces... E o pensamento que mais se assoma na minha cabeça é que a negação não é solução...
Sim, essa da entrevista foi maravilhosa! Será que aparecemos? Não vi...
Também me parece que a negação não é solução para nada, mas nestas coisas cada um sabe de si... live and let live! (embora ache que quem vive em negação na realidade não vive, sobrevive!)
Gostava de ter ido. Era uma das minhas bandas preferidas dos anos 90. Embora nunca os tivesse considerado como banda de metal puro mas mais uma fusão entre punk e metal. Fico contente de ver que ainda continuam cheios de força! Beijos para ti, Cat *
Sim, de facto os Suicidal não são metal "puro". Mas olha que havia mais pessoal da velha guarda do metal no concerto do que punks... A tua tribo ficou em casa!
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