Intro
E porque jukeboxes há muitas, desafiei um amigo a escrever um post sobre uma canção do Nick Cave, uma vez que, embora respeite muito o artista (sim, que o artista é um bom artista!), não faz, definitivamente, parte do meu imaginário musical. Espero que esta seja a primeira de muitas colaborações, com este e outros amigos que aqui queiram partilhar as suas jukeboxes.
Notas
Embora o autor não o tenha feito, tomei a liberdade de incluir o único vídeo que encontrei com esta canção. O post não vinha assinado de origem. Mantenho o anonimato do autor até ordens em contrário.
E sem mais demoras, deixo-vos com...
Lay me Low
Foi há precisamente dezassete anos que conheci Nick Cave & The Bad Seeds e foi, para mim, uma espécie de Revelação que alterou indelével e irreversivelmente o meu gosto musical. Aquele anjo negro pegou-me na mão e conduziu-me aos recantos mais profundos da alma humana, e eu segui-o como Dante seguiu o poeta. Uma descida aos abismos infernais, vagueando entre espíritos atormentados, ao som áspero das sementes ruins, de onde se eleva a voz do trovador: gutural, arrancada do peito num grito de alma que rasga a garganta para nos falar de dor, melancolia, raiva, sofrimento, provocando-nos uma inquietação profunda, visceral.
Nesta Divina Comédia somos convidados a percorrer três mundos, que se interligam: Morte, Religião e Amor. O tríptico que ele abre e nos mostra na catedral da ruína humana, dos angustiantes enganos, das paixões, do Amor não deixando de nos apresentar aquelas que ele considera as “suas pequenas e feias irmãs gémeas”: Desespero e Decepção.
Recorrendo a um conceito que aprendi há pouco tempo, através de uma amiga minha, arriscaria a dizer que Nick Cave é inspirado pelo duende, um conceito associado à expressão artística espanhola, que segundo Lorca está contido em todos os “sons negros”. Dezassete anos depois consigo aplicar um conceito que define correctamente o que senti e sinto ao ouvir Nick Cave “uma força misteriosa que todos sentimos, mas que nenhum filósofo consegue explicar”.
Das várias músicas dele, apresento-vos uma das minhas favoritas. E deixo que o poeta fale por si. Acrescento apenas que uma das duas que gostaria que fosse tocada no momento de “Lay me Low”.
They're gonna lay me low (Lay me low)
They're gonna sink me in the snow
They're gonna throw back their heads and crow
When I go
They're gonna jump and shout (Lay me low)
They're gonna wave their arms about
All the stories will come out
When I go
All the stars will glow bright (Lay me low)
And my friends will give up the fight
They'll see my work in a different light
When I go
They'll try telephoning my mother (Lay me low)
But they'll end up getting my brother
Who'll spill the story on some long-gone lover
That I hardly know
Hats off to the man
On top of the world
Come crawl up here, baby
And I'll show you how it works
If you wanna be my friend
And you wanna repent
And you want it all to end
And you wanna know when
Well do it now don't care how
Take your final bow
Make a stand Take my hand
And blow it all to hell
They gonna inform the police chief (Lay me low)
Who'll breathe a sigh of relief
He'll say I was a malanderer, a badlander, and a thief
When I go
They will interview my teachers (Lay me low)
Who'll say I was one of God's sorrier creatures
There'll print informative six-page features
When I go
They'll bang a big old gong (Lay me low)
The motorcade will be ten miles long
The world will join together for a farewell song
When they put me down below
They'll sound a fluegelhorn (Lay me low)
And the sea will rage, and the sky will storm
All man and beast will mourn
When I go
Hats off to the man
On top of the world
Come crawl up here, baby
And we can watch this damn thing turn
If you wanna be my friend
And you wanna repent
And you want it all to end
And you wanna know when
Well do it now Do it now
Take a long last bow
Take my hand Make a stand
And blow it all to hell
Lay me low...
When I go...
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6 comentários:
Epá! Até que enfim!!! Uma música como deve de ser!!!! lolololololol
Brinco contigo, mais uma vez... Mas tem o seu fundo de verdade. Nick Cave faz definitivamente parte do meu imaginário musical.
Não vou acrescentar absolutamente nada ao que o Amigo Anónimo escreveu(ai que tou tão curiosa!!! Quem é, quem é???) . Está perfeito!
Besitos, LP.
Ó LP
As músicas são escolhidas por outro motivos que não sua qualidade... Mas já que te queixas tanto da falta de identificação com a minha jukebox, porque não segues o desafio e nos mostras um bocadinho da tua (jukebox, claro!)
Fica a proposta...
Bjs
essa payita... fala fala e fala e não a vejo a fazer nada, cum catano!!!
Propostas, desafios... :D:D:D:D
Tá aceite! E até já sei qual é a música!
Ó LP's Keyboardpal! Explica-te! Não gostas da minha conversa? Ou isso é um desafio para utilizar outros meios multimédia? Vídeos? Isso é cá uma trabalheira... Cabos, máquinas, chips, downloads... Não sei se consigo!! CUM CATANO!!
Ainda que voltando ao um post antigo, não podia deixar de contar uma história associada, ainda que indirectamente, ao Nick Cave. Julgo que se enquadra. É uma verdadeira...
Balada em Quatro Ironias
24 de Abril, num fim de tarde cinzento, como cinzento era o clima dentro do carro que os levava rumo a Lisboa, onde iam assistir juntos a um concerto. O último dos poucos a que assistiram juntos e ao qual nem iriam, juntos pelo menos, se os bilhetes não tivessem sido comprados muito tempo antes de saberem que tinha chegado o fim. Mas foram. Naquele dia, véspera do dia da Liberdade...
Estacionaram o carro na Avenida com o mesmo nome, da Liberdade. Primeira ironia. Um deles, pelo menos, não desejava aquele tipo de Liberdade a que estava a ser sujeito, ou não fosse o amor “querer estar preso por vontade”.
Juntos e, contudo, tão distantes, encaminharam-se para o Coliseu. Ali, iriam ver Nick Cave & The Bad Seeds que promovia o álbum “No More Shall We Part”! Segunda ironia.
Entraram para o recinto, a arena daquele Coliseu onde um deles, qual gladiador, ainda se debatia contra a inevitabilidade. Pela última vez, ferido de morte, com a armadura já destruída, fez uma última e derradeira tentativa e pediu um último beijo. Um beijo de misericórdia e de esperança. E com esse pedido dispensou o último fôlego de amor próprio. Pedido recusado. A batalha estava perdida. Caiu por terra. À sua frente surgiu um rapaz, anónimo,que envergava uma t-shirt onde tinha escrito nas costas: “The End”. Terceira ironia.
Apagaram-se as luzes. A banda sobe ao palco, tocam os primeiros acordes e iniciam a sua actuação. De seguida, surge o vocalista que ali vem cantar os encontros e desencontros dos corações apaixonados, completamente alheio ao facto de que ali tão perto acabar de ocorrer uma história que poderia estar a ser cantada por ele. Quarta ironia.
Caro(a) Anónimo(a),
Está obviamente desculpado(a). Aqui na juke os posts estão ordenados unicamente pela data de publicação. São intemporais...
Obrigada por partilhar a sua Balada em Quatro Ironias! Merecia ser um post e não apenas um comentário!
E fiquei tão curiosa com esse anonimato...
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