quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O Cámone


Lembro-me como se fosse hoje. Na tal casa em frente à escola. O Cámone, sentado na mesa da cozinha num final de tarde, disse-me: "You gotta listen to this. Rage against the machine. It's something complety diferent! The guitar, listen to the guitar." Fiquei extasiada. A música era fantástica, as letras fortíssimas e aquela guitarra era realmente de outro mundo!
Até hoje, sempre que oiço Rage lembro-me dele. O nosso Cámone. Foi namorado de uma amiga e um grande amigo para todos. Um holandês, de Amesterdão, viajado, um homem de muitos ofícios, sem medo da vida e das suas curvas imprevisíveis. Um cidadão do mundo, olhos atentos, sinceros e inocentes. Ensinou-me muita coisa (como a máxima que se tornou minha também: "pão e tabaco não se nega a ninguém") e espantou-nos a todos ao eleger os portugueses como os "mais malucos". O que dito por um holandês de Amesterdão tem o seu impacto... Ele espantava-se com outras coisas, sobretudo com a forma como vivíamos as relações familiares. "Vocês vivem mergulhados e embrulhados nas vossas famílias", dizia-me muitas vezes."Para mim é pouco saudável, doentio mesmo. Não aguentaria viver assim".
Adorava os livros da Turma da Mônica e as suas primeiras aventuras na língua portuguesa eram uma salada recheada com termos muito brasileiros e muito infantis. Delicioso! Vivemos muitas aventuras juntos, mas a minha preferida foi uma invasão nocturna ao Castelo de São Jorge. Trepámos um gigantesco portão e andámos horas em exploração. Uma experiência fantástica e imprópria para cardíacos (Buuuuuuu....).
Há uns anos voltou a Portugal e visitou-me. Eu estava a viver no campo, na altura. Passámos um dia óptimo mas na hora da despedida, um estranho abraço muito apertado e uns olhos cheios de lágrimas fizeram-me perceber. Tinha vindo despedir-se. Não para sempre, acredito. Mas estaria a fechar um qualquer ciclo da vida dele ao qual eu estava ligada.
Tenho saudades e a certeza que o voltarei a ver. Por enquanto, ficam os Rage Against the Machine...

8 comentários:

Anônimo disse...

ih, o cámone!
e tinha razão quanto à famelga. Sei de fonte segura que a mãe da nossa amiga (que era namorada do cámone) ainda continua traumatizada com a estadia dele na casa em frente ao liceu. E depois dizem-se intelectuais e progressistas.... tretas!

Luis Francisco G Padrela disse...

RAAAAAAAAAAAGEEEEEEEEEE!!!!! Pá, ora aqui está uma bela banda pra iniciar a mlher Payita nos móshes!!!! ANOTHER BOOOOMBTRACK!!!!!

La Payita disse...

Sr. Luis Francisco G Padrela:

áreiutólquinguetumi?


Até gosto desta música... ;)

Jakk disse...

mas alguém tem um contacto do dito!?!?!
como me gustaria hablar e visitarlo!!! :)

Deixou saudades e lições!

Anônimo disse...

O Camone!!!
A verdade é que nunca o conheci bem! Ou como gostaria
Os dias eram meio vividos nesse tempo e por isso são hoje meio recordados!
Lembro-me que de facto havia uma sapiencia quase inocente nessa personagem, mas talvez fosse o cabelo demasiado louro e os olhos demasiados claros para paragens tão a Sul.
Recordo-me que tinha um humor erudito, e um sotaque esforçado!
Tenho pena de não o ter conhecido melhor!
Para falar verdade não me recordo bem por onde andei nessa altura, mas julgos que me encontrava algures perdido dentro de mim!
Miguel

Jakk disse...

Pois, como se dizia antigamente...prata da casa!
E o que falas não é inocência, nem ser louro de olhos azuis... é um sorriso aberto e verdadeiro! Honesto!!

Luis Francisco G Padrela disse...

AHAHAHAHAHAHAHAHHAHA!!! Rua da Prata, Rua do Ouro... AHAHAHAHAHAHHAHAH!!!! Epá, não resisti... Bom, o Jack tiene razón!! Eu sou ruivo e olho azul e de inocente, nem apelido!!!! MUAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAH!!! Mas sim, o Arthur era boa onda :) E sempre gostei aquele som transmontano que os Holandeses têem ao falar Inglês....

Anônimo disse...

olha lá,
não tem nada a ver, mas onde é que sacaste a tua caricatura (que está igual a ti)? Tb quero uma!