quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Músicas da Rádio II



Viviam no campo. Primeiros tempos de vida a dois. Tempo de mudanças, muitas mudanças. Ele tinha resolvido dar-se um tempo. Parar, olhar, pensar e repensar a vida, o caminho. Ela tinha chegado à pouco de uma viagem semelhante e tentava aplicar a teoria à realidade. Sentiam-se seguros naquele amor. Tudo o resto era questionável.
Os dias eram longos e solarengos, por vezes pesados demais. Isto de parar e olhar para dentro de nós implica sempre uma dose considerável de sofrimento. Mas a vida no campo desvendava-lhes segredos importantes. Os vizinhos e amigos entravam-lhes pela casa adentro porque a porta estava aberta. Rapidamente perdiam os "vícios" urbanos e aprendiam não só a viver com a porta aberta mas a aproveitar as portas que se abriam para eles.
O holandês que aprendia português a ler livros de provérbios e que fazia pão todas as manhãs para partilhar com os vizinhos, a mulher alentejana com jeitos maternais que tinha sempre uma história para contar. Estas e outras personagens entravam nas suas vidas, na sua casa, misturavam-se com o momento que viviam. Até os espíritos pareciam usufruir das portas abertas...
Cada uma das personagens lhes trazia mais uma pista, mais uma peça. Tudo parecia começar a encaixar-se. Mas ela interrogava-se se não o iria perder no meio de tanta (des)construção. E ele interrogava-se se ela ficaria para um qualquer desfecho que ele ainda desconhecia.
Mas tudo passa, e aquele momento também passou. Ninguém se perdeu. Foi apenas o primeiro de muitos puzzles que construíram juntos.
Hoje já não vivem no campo mas esforçam-se por manter a porta aberta. Nunca se sabe quando nos surge a peça que procuramos...

3 comentários:

La Payita disse...

Post mai lindo...

Não sou inocente neste comentário. Tal como todas as pessoas que te conhecem, sei do que falas e de quem falas.

E todo este teu texto me fez pensar... Em puzzles! Serão puzzles? Procuramos peças que encaixam? E que nos impulsionam a
ir fazer um outro com mais peças?

Ou serão daqueles enigmas perceptivos (não me lembro do nome), que temos de olhar para um ponto fixo no horizonte e de repente, Pimbas!, já está! Outra imagem. Esteve sempre à nossa frente. Concentração. Determinação. Abstrair do óbvio... Um insight!

Não sei. Foi o que me ocorreu com a tua história. Nas vezes que perdemos tempo à procura de respostas, com elas à nossa frente.

Olha hoje foi pró que me deu! Seja lá o que for que isto signifique...

... O amoriiiiiii é lindoooooooo!!! :D:D:D

(Mesmo naqueles dias em que eles compram ketchup, quando existem dois ou três frascos no frigorífico!)

Besitos, LP.

Anônimo disse...

atão?
não há movimento neste blog?
queremos mais!

fumante disse...

Que bonito é o amor!!!
Às vezes acho que já não há amores assim... Que a vida se vai encarregando de nos deixar sempre com uma peça a menos no puzzle... e o pessoal até se vai habituando a que ele não fique completo. Se calhar não é mesmo para estar completo. Uma vez cheio, o que há para descobrir? Depois tem de se construir novos puzzles... epa, e isso dá cá uma trabalheira!!!